Pepetela, nasceu em Benguela com outro nome, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. Professor na Universidade Agostinho Neto em Luanda, licenciado em Sociologia, foi no passado guerrilheiro, político e representante do MPLA. Escritor também foi, como é e será, “para sempre”, diz.
Angolano no sangue, na voz, no sorriso e na escrita que polvilha com étimos naturais de uma cultura tão diversa, Pepetela descreve “como uma declaração de personalidade, necessária na época em que aconteceu” a sua escrita, nascida desde que na escola, “uma professora me pediu para fazer uma redacção, e eu fiz um texto diferente dos outros meninos, receoso da sua reacção, mas impelido pela vontade de fazer algo diferente, escrevi, ela adorou, e me deu como exemplo para todos os outros”.
Autor de “Lueji, o Nascimento de um Império” ou “As aventuras de Ngunga” entre muitos outros, a história de “Jaime Bunda, Agente Secreto” editada em 2001, é continuada em 2003, com “ Jaime Bunda e a Morte do Americano”, onde o James Bond angolano investiga a morte de um americano que com tantos locais no mundo para morrer, como por exemplo o Afeganistão, a Somália, o Irão ou a Colômbia, logo haveria de ir morrer na pacífica cidade de Benguela, onde na memória do povo que lá vive nenhum americano havia até aí morrido. A omnipresença americana no mundo “é aliás um dado adquirido”, mas no entanto a morte do norte-americano na pacífica cidade das acácias rosas não incomodou muita gente, “ocupada na legítima e cada vez mais problemática azáfama de sobreviver”, conta o último romance da saga do metafórico agente investigador angolano, “todos me perguntaram quando fiz o primeiro livro se a história iria continuar, na altura não sabia e continuou, mas agora não vai haver mas Jaime Bunda posso garantir”.
África é inevitavelmente um ponto por onde a conversa, e o discurso de Pepetela, vai tocando, partindo e chegando. Os contrastes, as áfricas, dentro intemporal África, “todo o mundo, num só imenso espaço”. “Explicá-la... não é possível por palavras, mágico, talvez seja o termo que encontro para adjectivar o continente”. O escritor angolano conta, “quando encontro portugueses que lá estiveram muito tempo, a primeira coisa de que me falam é da noção de espaço, da sua imensidão infinita, mas também do seu cheiro, do céu quando vai cair a noite, da própria paisagem”.
Da sua Angola, refere “a transformação” que se deu após a liberdade conquistada nos últimos anos, mas no entanto alerta “para a dificuldade” por que passa o seu povo, “cujo ordenado mínimo ronda os quarenta euros”, observando a crescente diáspora angolana, nomeadamente estudantil residente em Portugal, como “uma fonte de esperança necessária para o meu país”.
“O povo português está triste, parece-me”. Pepetela regista assim a sua visão acerca do que vem observando, desde que no início do mês iniciou a campanha promocional da sua mais recente obra, que o levou a locais como Reguengos de Monsaraz, Setúbal, Coimbra, passando por Lisboa, e onde, de passagem por alguma outras localidades, pôde revisitar um país “de que sempre gostei muito”. No entanto o romancista de Benguela observa algumas diferenças agora existentes, destoantes do sentimento com que regressou da última vez que voou para a sua terra natal, “quando parti, há cerca de três, quatro anos, levava a sensação de um povo português mais alegre, descontraído e sorridente, mas agora parecem estar todos um pouco em baixo, deprimidos, mas não sei, é uma ideia que venho interiorizando”.
Com o carácter de relevo que a sua personalidade implicou nas últimas dezenas de anos em Angola, Pepetela não observa com grande optimismo o percurso que a cultura vai tomando no seu país de nascença, “são poucos os livros editados em Angola, e embora o orçamento da cultura haja aumentado, o da defesa aumentou muito mais”, considerando esta como uma “responsabilidade da qual o estado não se pode demitir”.
Por
Pedro Cativelos, 2003
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