julho 08, 2008

Pública: Um dia com... Roberta Medina

O seu Rock por um mundo melhor



Os sonhos e a realidade diária da mulher de sorriso fácil e olhar frontal que organiza o maior festival de música do mundo. Roberta Medina, a empresária de sucesso, a relações públicas sem preconceitos, a menina que se diz ainda, que continua a “adorar” rodas gigantes e montanhas russas feitas de metáfora, para o imaginário, e para a vida que procura “conquistar” a cada segundo.


Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira


“Delicioso, o que é?!”. É mais um dia de preparativos para o Rock in Rio 2008, “um dos últimos setecentos e tal, porque tudo isto começa no dia em que o anterior acaba”, encolhe os ombros e sorri sem cerimónias. Escolhem-se as ementas da tenda vip, dos jornalistas, das equipas de produção, dos convidados especiais e provam-se entradas quentes e frias, pastas variadas, bifes de peru com ananás, empadão de peixe, bacalhau com broa, semi-frios de vários sabores e texturas gustativas.
Roberta pergunta tudo o que não sabe, não é formal, foge das normas que impedem o sorriso fácil e o trato aproximado. “Eu sou assim, porque não haveria de ser? Acho que todos os brasileiros são informais, mas sendo uma empresária, num meio de homens, tenho de ter armas diferentes para lidar com as situações”. E tem-nas, utilizando o sorriso para iluminar o ambiente, contagiar a sala, aligeirar os tons cinzentos das conversas relacionadas com patrocinadores above e below, engenharias de palcos e mil e uma campanhas promocionais com as insígnias “Eu vou”, que lhe servem também de lema de vida. “É verdade, não gosto de indecisões, nem de grandes cerimónias sabe? Quando se gera um impasse, gosto de decidir, ir para a frente, sem perder muito tempo”.



Cidade em construção
Só no último fim de semana de Maio serão abertos ao público os portões da cidade do rock. Por agora, os sons que prevalecem ao longo do Parque da Bela Vista tocam ao compasso dos martelos, das máquinas retro-escavadoras, dos aparadores de relva e dos enormes camiões que circulam carregados de material pelos caminhos de um recinto ainda irreconhecível. Numa das entradas, o segurança de serviço não a reconhece e pergunta “se é funcionária da Câmara”. “Não, vimos só ver, podemos?”, responde com boa disposição.
“Não tenho ânsia em aparecer, em ser figura pública. Organizo um festival, sou conhecida por causa disso. O resto, a minha vida, a minha família e amigos, eu própria, fica para mim, para quem eu gosto. Não tenho jeito para aparecer nas capas das revistas, ou ser uma celebridade. Só a imprensa cor de rosa é que pega em mim de vez em quando mas não gosto muito disso”.
O Palco Mundo está ainda desmontado, como puzzle ao longo do relvado. À primeira vista tudo parece idêntico ao recinto que, nas duas edições, em 2004 e 2006, abrigaram em média quase quatrocentas mil pessoas. Mas Roberta Medina, directora da Better World, empresa produtora do festival, desvenda a principal diferença em relação às anteriores, pelo menos em termos de filosofia. “Este ano, elegemos as alterações climáticas como tema central do ´Projecto Social, Por Um Mundo Melhor`, tanto aqui, como em Madrid, onde vamos estar no final de Julho, com o Festival. Queremos aproveitar para alertar muitas consciências que ainda não se aperceberam que o nosso planeta corre perigo de vida”.
Se organizar um Rock in Rio dá muito trabalho, dois não serão demais? “Não, claro que não! É um desafio, o crescimento do projecto, a sua internacionalização. Nas edições que já realizámos, vários milhares de jovens e crianças no Brasil, em Portugal e em diversos outros países já foram beneficiados pelas doações provenientes das vendas de ingressos e das acções promovidas pelos nossos parceiros. Quanto maior for, melhor será o seu exemplo e a ajuda que poderemos dar a quem precisa”. E nem a dimensão económica gigantesca que atingiu o sonho do seu pai, que na década de oitenta criou um festival de música para ajudar os mais desfavorecidos pela vida, lhe parece ameaçar o destino. “Creio que a sobreposição dos valores económicos aos princípios que levaram a que isto tudo fosse possível nunca vai acontecer. É que sem isso, nada faria sentido, passaria a ser apenas uma máquina de fazer dinheiro, que nem dá assim tanto lucro”, lança, com um sorriso no rosto e convicção nas palavras.


Mulher de negócios...

Aos trinta anos, e “apaixonada” pela produção de eventos desde pequena, Roberta Medina vai espalhando boa disposição por onde passa. “Olá, como vai?”, mais à frente, repete as palavras, a entoação e o cumprimento. “Sei distinguir quem gosta realmente de mim, de quem apenas tem interesse, por causa da grandeza do evento! Aprendi isso aos doze anos, quando uma colega de escola só me falou durante o festival porque queria bilhetes... Depois, deixou de me ligar! Cresci com essa experiência, aprendi a ver certas coisas, e também a aproveitar esse facto a meu favor, em termos de negócios”.
Vive há cinco anos em Portugal, no Estoril, enquanto a família, a mãe, o pai e os dois irmãos, se repartem por Espanha e pelo Rio, a terra natal. “Adoro Lisboa! Claro que tenho aquela perspectiva de quem vem de fora, mas é muito bom isso, porque me habituei a visitar todos os sítios assim e nunca nos habituamos a deixar de reparar nos pequenos pormenores que tornam os lugares interessantes”, conta, enquanto vai observando os edifícios, as particularidades dos passeios, as pessoas que passam na rua. Gosta de indicar o caminho, mesmo quando não conduz. “Sim, tenho sempre um objectivo, uma ideia inicial que me leva a querer atingi-lo”, conta, a caminho dos escritórios da empresa no Campo Grande.
A reunião semanal da equipa que prepara o Rock in Rio 2008 está prestes a começar. São quase cinco horas. O ambiente é jovem, informal, ruidoso, simétrico a Roberta. “Sim, tinha de ser assim, não consigo trabalhar com pessoas que não estão bem, preocupo-me com eles, se precisam de um abraço ou de alguma ajuda. Afinal passamos aqui muitas horas todos, a trabalhar para a mesma finalidade, acho que devemos isso uns aos outros ou não?!”.


...Com sonhos de criança

Durante a maior parte do encontro, observa, dá a sua opinião, como se de mais uma se tratasse. Na verdade, Roberta já não estranha a responsabilidade que tem em mãos, diariamente, quase todos os dias do ano, desde muito nova, quando assumiu a internacionalização do festival e veio sozinha para Portugal. “São vinte cinco milhões de orçamente, muitos contratos, papéis, reuniões... Mas no primeiro dia vale a pena! E no último então, quando tudo acaba e corre bem, um alívio e uma alegria imensa!”.
Pessoalmente, as coisas não mudam, e parece viver a vida com simplicidade. “Sempre! Todos temos dores de barriga, defeitos e qualidades, ninguém é mais do que outra pessoa!”. Fora do trabalho, e dos palcos empresariais, ainda “adora” as rodas gigantes e as montanhas russas que lhe preenchiam os serões de criança, confessa em Belém, na diversão instalada em frente ao Tejo. “Adoro este rio! Andar aqui nesta roda faz-me lembrar de quando era pequena sabe? Estava sempre a andar nas diversões! E ainda tenho todos os meus peluches de menina, e procuro acreditar, como o meu pai me contava, que quando adormeço, andam pela casa a fazer lá o que têm que fazer! Tento manter alguns destes traços de personalidade, talvez para compensar aquela parte da juventude que não tive, mas que aproveito para ir vivendo ao longo da vida de adulta, cheia de responsabilidades e decisões para tomar”.


“Sou feliz”

O seu dia está quase a terminar. Depois da preparação da conferência de imprensa com
Mário Lino, a entrevista com Ana Sousa Dias, no Rádio Clube. “Já estou habituada, mas ainda tenho de voltar ao escritório, preparar algumas coisas para amanhã e depois ir para Madrid”. O telefone toca. Tem dois, um português e outro “portunhol”, confessa com humor. “Na verdade falo português, inglês e um pouco de castelhano, mas quando me irrito começo a misturar tudo e ainda fico mais irritada”, lança, com uma gargalhada.
No parque onde por vezes costuma passear, um banco de jardim que “vem mesmo a calhar”, num dia em que o sol se começa a por para lá das copas das árvores que, embaladas na suave brisa da tarde, lhe acalmam por momentos, os pensamentos. “Daqui a dez anos quero estar casada, ter dois filhos e ser feliz! Mas acima de tudo, viver num mundo melhor que este em que vivemos. Se sou feliz hoje? Sou, muito! Faço o que gosto e o que posso para ajudar a melhorar as coisas. Mas não me sinto bem com a forma como o mundo está hoje em dia, com a miséria, com os conflitos. Temos de mudar isso!”.

3 comentários:

Anónimo disse...

é a pessoa mais bele do mundo não só por fora, mas como por dentro, o seu sorriso encanta e desencanta e é uma óptima profissional!

Anónimo disse...

é uma braza!

Sweet Phoebe Halliwell xD disse...

A Roberta é a mulher mais linda de sempre ! Obrigado pelo " Post " . Se um dia a conheçe-se desmaiava xD
Amo-te Roberta :DD