outubro 12, 2009

Pública: Máscaras Improváveis - "Marta Crawford"

Ser ou não ser, sem tabus.

“A doutora do sexo”. Chamam-lhe assim quando a reconhecem da televisão. Sorri. “Era esse o objectivo, chegar a todas as pessoas, ajudá-las a lidar com a mais essencial de todas as coisas”. O sexo afinal, fruto proibido, secular alvo de preconceito, bom, como todas as coisas simples.


Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
Produção
Ruben Moreira


São breves os momentos que distam, entre um sorriso franco, um cumprimento apertado e uma pose sentida, e sem que a palavra prazer surja nas entrelinhas mais visíveis do seu discurso. Palavra proibida, sensação reprimida, durante tempo demais, que já não o é no entanto, “ou não deveria ser”, interrompe. Marta Crawford é assim mesmo, despudorada nos actos, directa nas intenções. “Todos temos tabus, somos filhos de alguém que nos incutiu valores e ideias. Mas à medida que vamos amadurecendo devemos descomplicar, e assumirmo-nos perante nós próprios… Quanto mais informação se tiver disponível, mais facilmente se percebe que algumas dessas coisas que nos passaram estão erradas. Longe vão os tempos em que uma mulher só tinha o objectivo de engravidar!”.
Logo assim, num flash, várias convenções sociais deitadas por terra, e outras tantas a bambolearem, como corpos agitados ao vento.
Da licenciatura em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada à especialização em Sexologia Clínica pela Lusófona, o trajecto esperado, passou às consultas de sexologia e terapia familiar no seu consultório de Lisboa, para então, num dia como outro qualquer, lhe surgir o convite que não aguardava. As primeiras aparições televisivas marcaram a diferença, pelo tema, pelo tipo de abordagem, por ser quem é. “Um salto inimaginável”, para quem no início da vida profissional, “não sabia ainda” bem onde se enquadrar nem o que fazer do destino. “A televisão é uma forma fantástica de chegar a um número enorme de pessoas, que de outra forma nunca conseguiríamos tocar, fascina-me essa parte, de poder ajudar a melhorar as suas vidas, e há vários casos em que isso já aconteceu, o que dá um sentido muito especial a tudo isto, e me enche de orgulho e de vontade de continuar. Ser mulher nesta profissão? Há aí muitos preconceitos em relação aos sexólogos, acham que são todos homens, pouco atraentes, assexuados… Não tem nada a ver com a realidade! Quando estou em consulta sou terapeuta, e vêm-me como tal!”.
Preconceito. Outro conceito, que não demora a entrar, e reentrar na conversa. Terão os homens têm medo das mulheres activas, e as mulheres pavor aos homens passivos? “Por um lado querem mulheres passivas, para poderem ser dominadores, predadores…“. Marco Paulo, o cantor, o profetizou um dia, com a frase que ficaria para a história dos sentidos… “Uma lady na mesa, uma louca na cama…”, o contraste que, transportado para masculino e feminino, todos, de ambos os lados da luta dos sexos, procuram como quimera. Sorri, de gargalhada despudorada. “Sim, é um eterno paradoxo. Uma mulher independente, pode ser assustadora para a maioria dos homens, que têm medo dessa liberdade. Têm medo das muito activas, mas preferem-nas sexualmente por isso mesmo. Acho que eles não sabem é o que querem! Mas ao contrário também é assim, repare, nenhuma mulher pode ser feliz com um homem demasiado atencioso e querido e que não seja mais do que isso. O essencial é existir um equilíbrio, mas não é fácil!”.
Máscaras. O tema serve-lhe a rotina diária, alimenta coisas boas, más, amores, desamores, e indiferenças. O arrojo visual das propostas, das roupas, dos planos fotográficos, até a metáfora visual da garrafa de leite com que posa, esvaziada lascivamente de encontro a um chão de terra árida, servem-lhe alguns dos traços do perfil. “Eu gosto de máscaras, ajudam por vezes, outras não”, descreve, tímida, mas ao mesmo tempo, segura, na assumpção que perpassa de si, para fora. “O que falta às pessoas para serem felizes? Tanta coisa… Sabe que o problema que mais pacientes me colocam é a falta de desejo sexual feminino, o que tem a ver um pouco com as rotinas desta nova sociedade que nos comprime a todos, e nos enche a cabeça com tanta coisa, que no fundo, acabamos por deixar para último os aspectos mais essenciais e básicos do nosso funcionamento enquanto pessoas. Começa tudo aí, e é aí que, no fundo, tudo termina”.


Frases Soltas:
“Quando se gosta, fala-se de amor, quando se retira o lado afectivo, põe-se a tónica no acto, no lado carnal, e faz-se sexo. Ambos são bons, mas o lado romântico da questão é essencial e se não fosse assim, não havia tanta gente a sentir-se ´desamada` por esse mundo fora”.

“Não generalizando, o homem resolve muitos problemas através do sexo, enquanto a mulher o faz exactamente ao contrário”.

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