agosto 03, 2010

Máscaras Improváveis - Pública : Helena Isabel

Linhas de Vida


Actriz de mil feições expressivas, mulher de muitas outras, em linhagens que lhe percorrem o carácter, e lhe deixam o rosto jovem e o sorriso limpo, quase adolescente ainda, como quando a vemos na televisão, ou na memória.

Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
Produção
Rúben de Melo Moreira



Conceito. Desconstruir, para fazer reerguer os traços mais discretos de uma personalidade que permanece em silêncio, mesmo que defronte as grandes plateias, da televisão, ou do teatro, por onde se move, há largos anos.
Fios de cobre estáticos, adormecidos, sob um céu claro, carregado de cinzentos frios e húmidos, e um ambiente industrial, cru, quase desértico de vida humana, linhas de vida, que chocam de frente com o olhar, com a tonalidade das palavras. Contrastes e desafios. “Fazer algo de diferente assim, estranho, porque nunca o tinha feito, mas sinto-me bem. Sou uma mulher assim, não gosto de estar parada, sou enérgica, faço várias coisas ao mesmo tempo, e adoro coisas novas que me desafiem e me libertem partes de mim, que normalmente não saem cá para fora”.
Para além de actriz, desempenhou papéis vários, foi figurinista para várias peças de teatro, é compositora de adereços e acessórios há já largos anos, técnica que apura, para dissolver o stress e aconchegar o espírito no cair dos dias de gravações mais intensos. Transportar esse universo interior para uma composição que a envolva, em termos de estética, é um complemento do desafio lançado, aceite com um sorriso apoenas, simples.

Auto-retrato. “É complicado fazê-lo, traçá-lo assim tão de repente e em poucas palavras… É sempre difícil vermo-nos de fora, de forma imparcial, completamente verdadeira. Tenho um lado intuitivo muito marcado, muito activo, que fui ´domesticando` com o passar do tempo, à medida que a vida foi passando por mim. Assim, simultaneamente, fui adquirindo uma consciência selectiva, baseada na razão. Por outras palavras, guio-me pela intuição, mas sempre com os pés muito bem assentes no chão!”.
Instantes, maquilhados com pó de memórias, de momentos que sobrevivem para lá do segundo que se segue, e já passou, antes do próximo que se avizinha, e já partiu, para não mais regressar. Alguns disparos, outras imagens que perduram, num ambiente que se vai tornando mais intimista, mais pequeno. “Sou assim em tudo, não me deixo levar à primeira pelo meu instinto, apesar de ele, no final acabar quase sempre por prevalecer. É um exercício engraçado este, o de reflectirmos entretanto, para no final acabarmos por fazer aquilo que inicialmente pretendíamos... Sabe que no dia em que perder esta capacidade de me entusiasmar, de me apaixonar com a novidade, penso que vou ficar velhinha e acabar enquanto pessoa!”.
Os anos passam, medidos à distância de um ecrã, ou de uma plateia, pelas personagens que vai edificando, e pelas quais a vamos reconhecendo. Umas partem com ela, outras residem em nós durante mais algum tempo, apuradas na memória. “A vida que escolhi, é turbulenta, exige muito de nós, a vários níveis. Enquanto actriz, prefiro comédia, divirto-me, sou mais livre, mas enquanto espectadora, não sou muito deste género, gosto de coisas mais pesadas emocionalmente. Ainda hoje, e já que falamos disto, guardo a Cilinha, de `O Tal Canal` como a personagem que me deu mais gozo fazer, porque ali podia acontecer tudo, caírem cenários, choverem coisas do tecto, sei lá, era hilariante e deixou-me por isso, grandes recordações que vão perdurar para toda a minha carreira”.



Máscaras Improváveis. “São algo com que nós, actores, temos de saber colocar, e retirar, de uma maneira por vezes tão superficial, ou mais profunda noutros casos. Mas eu convivo bem com isso até, porque estou de bem com a vida, não guardo nada em mim que não tenha deitado lá para fora, ou arrumado muito bem cá dentro. A amargura, sabe, reflecte-se na cara das pessoas, e eu sei que devo viver o presente da forma mais intensa possível, para não ter tempo de me esquecer dessa capacidade que me impulsiona, de me apaixonar pelas coisas que a vida me traz, de surpresa, como é bom”.

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