Do cabaré para o Casino, sem passar pelo convento, nem ir para o Inferno!
A Notícias Magazine acompanhou um grupo de alunas da Academia de Pole Dance, durante várias semanas. Entre as aulas de dança no varão que frequentam e o primeiro evento nacional do género em Portugal, que se realizou no Casino da Figueira da Foz, um grupo de mulheres comuns, com uma paixão em comum, pelo varão e pelo que ele representa para elas. Saúde física, auto-estima, beleza, sensualidade e… preconceito também, sensações distintas que surgem nos olhares e constam nas palavras quase sempre que o tema é tão inesperadamente controverso como o Pole Dance.
Texto
Pedro Cativelos Coimbra do Amaral
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
“Isso meninas, assim mesmo, o rabinho para cima, e o cabelo para trás… isso mesmo!”. Os espelhos, reflectem os brilhos dos varões, e as luzes a cintilar nas coxas destapadas, que se esmeram contra o ferro forçado prateado e reluzente.
Este é um tema abordado com base na gramática do mundo em que vivemos, cheio de artigos definidos, verdades feitas, singulares e plurais, feminino porque é ele quem comanda os tempos modernos. Será?!
Preconceitos, são isso mesmo, conceitos adquiridos antes de serem conhecidos, e conjugam-se na grande maioria das vezes em que se fala em pole dance, ou em dança do varão, nos olhares de quem escuta, nos momentos que se seguem a essas palavras.
É uma dança, mas não só, é um desporto também, para além de ser sensual, todavia não demasiado explícito, ou só até ao ponto em que desperta a curiosidade, nas mais variadas formas, e se torna moda num cada vez maior número de países, dos Estados Unidos à Austrália, subindo na escala geográfica, para a Europa, onde, de há alguns anos para cá, se começou a tornar famoso, também em Portugal, com o aparecimento de algumas escolas, e com a sua adaptação a academias de fitness, numa variante mais desportiva, por exemplo.
É só experimentar lançar o tema quando inserido num grupo alargado de pessoas. Verificará a multiplicidade de opiniões, quase todas associadas ao sexo, algumas ao striptease ou a meandros sociais mais esconsos, e a outras demais variadas direcções opinativas. Mas… Uma coisa, é no entanto comum a homens e mulheres, a curiosidade. E esse porquê, que parece fácil e objectivo de ser explicado, não é assim tão óbvio afinal. É todavia simples de perceber, depois de se conhecerem as histórias de quem se apaixonou por si própria, depois de se deixar levar pelas danças que o Varão lhe reservou.
A Academia do Varão
“É assim, de facto. Há muita gente que vê as reportagens que já passaram nas televisões sobre as nossas aulas, e que vêm até nós porque têm curiosidade em descobrir o que é que isto tem de especial e porque é que toda a gente que já experimentou não quer outra coisa”. Andreia Pinheiro é a fundadora da academia de Pole Dance, onde é instrutora também. Aos trinta e três anos é ela também a mais conceituada praticante do nosso país, e recentemente regressou da Austrália diplomada pela Bobis Pole Studio, uma escola que hoje em dia tem mais de cem outras franchisadas por todo o hemisfério sul do planeta, e de onde saem anualmente algumas das campeãs mundiais da modalidade. “Sim, porque isto é uma modalidade, que também pode ser dança, ou mesmo só um escape ao stress! Não é nada de mau, nem tem nada a ver com o striptease… E não é que tenha nada contra isso, mas este é feito por nós, e para nós próprias, e não para alguém estar a ver. Isto é, também pode acontecer, claro, mas o objectivo principal, e a razão de qualquer uma de nós estar aqui, e se entregar a isto que é tão difícil e exigente, até em termos físicos, não é essa, com toda a certeza”, complementa.
Trabalham sempre duas a duas, durante as aulas (duas por semana) de pouco mais de uma hora, mais ou menos alinhadas pela altura de cada uma, para se ajudarem mutuamente. “Um gemini”, agora um “saca-rolhas”, “uma borboleta”. Movimentos técnicos requeridos pela instrutora Marina Meireles, num tom quase… marcial. Aos 49 anos bem escondidos pela estampa física e pelo sorriso, chegou à Academia há pouco mais de dois depois de um grave acidente de mota, que quase lhe tolheu os movimentos. Foi assim, quase como complemento da fisioterapia que achava “aborrecida” que entrou, como aluna, para a Academia de Polé Dance, então ainda a começar.
Tomou-lhe o gosto, e o corpo aperfeiçoou-lhe as formas. Passados alguns anos, é hoje “o braço direito” de Andreia, como a própria admite, e uma confessa entusiasta da modalidade. “Mulher de quase cinquentas, com corpo de trinta, e mentalidade de vinte”. Está assim, pelas suas próprias palavras, praticamente apresentada. Classifica-se desta forma, sem tempo de consumo, nem prazo de validade. E ri, alto e bom som, tal como a música, que nem precisa de ser especial para a levar lá bem para o alto do varão, e a transformar numa estátua de mulher musculada, que faz abrir as bocas e erguer os pescoços das alunas, que normalmente ficam com o olhar suspenso, e as palavras a descaírem, sorrateiras, entre dentes… “Mas eu não consigo fazer isso… Mas, epá… Eu tenho de fazer isto!”.
E tentam. Trepam o varão, com as pernas arqueadas, ou de cabeça para baixo, com os cabelos à deriva dos movimentos lascivos da cabeça, ou ao sabor da banda sonora que acompanha as aulas, e com sensualidade provocativa no olhar, no menear das mãos sobre as ancas, e do cabelo que as parece tocar, solto, selvagem, acrobático.
As aulas
No primeiro dia, há uma certa timidez no ar. Os movimentos não saem como o previsto,
o ensaio da sensualidade transformada em movimento, não surge natural. A presença de jornalistas é inibidora, intimidatória, principalmente quando os movimentos ainda não estão mecanizados com o corpo, e o varão é escorregadio demais, para se expor assim de relance, mesmo que numa pálida imagem ao espelho. “O que aqui se passa é que temos um momento do dia só para nós, onde podemos fazer tudo aquilo de que gostamos em uma hora… Dançar, fazer desporto, estar com as amigas, cuidar de nós, fazermos figuras tristes às vezes, claro, sermos mais provocadoras, sem termos de enfrentar qualquer julgamento por isso… E depois, saímos daqui muito mais bem dispostas e felizes da vida”, explica uma das alunas.
Todas as mulheres gostam de dançar. É daqueles lugares comuns, como o Rossio, ou uma qualquer zona equivalente. Tal como dizer que todos os homens gostam de futebol. Nem todos, mas há excepções que por vezes, confirmam as regras. Outro lugar comum…
Andreia dança. Teve um filho há pouco mais de um ano, mas o corpo já dissolveu quase na totalidade as marcas da maternidade, e os músculos, todos em conjunto, movimentam-se de acordo com o que lá vai dentro, a mulher selvagem, ginasticada, pujante, poderosa, capaz de tudo pelo prazer de oferecer prazer a si própria, possante e possuidora. Por fora, sem a música, as luzes baixas, os saltos altos que lhe dão a altura de Afrodite, é diferente… O tom das palavras sai-lhe tímido até. É reservada, senhora de si na mesma, concentrada, pouco dispersa, nada dada a grandes divagações de feminilidade. “Ali (acena para o varão) não sou eu totalmente, como também não o sou aqui. Acho que há partes de mim, lugares da minha personalidade que sobressaem aqui, e outros que acontecem ali. Tudo isso faz parte do que eu sou, do que está cá dentro. Sinto-me de facto muito próxima de mim, quando estou no varão, é certo, é a minha paixão e tenho a sorte de poder ser profissional disto”.
Modalidade... na moda
Pole dance é, na definição original, uma forma de dança combinada com ginástica que, na forma como hoje é praticada, nasceu no Reino Unido, nos anos 80, apesar de só ter chegado ao nosso país há pouco menos de cinco anos.
Enquanto modalidade, é simples de começar a praticar. “Pois, a dificuldade é mesmo a de conseguir fazer”. Já existem algumas escolas em Lisboa, e um varão para praticar pode custar entre os 350 euros (o mais comum, para ter em casa), e os 2000 mil (utilizados em competição), dependendo da qualidade e do fim a que se destinem. Quase todas as alunas têm um em suas casas. É leve, desmontável, e facilmente transportável. Parece um anúncio, mas é verdade, assim como os benefícios que todas descobrem e anunciam nesta forma de dança, que se multiplicam, e a vão transformando para lá de moda, em tendência que se vai massificando.
Apesar de se olharem sem temor, sem inibições, enquanto deixam o corpo resvalar pelo varão, e pelo próprio olhar que alimenta os sentidos mais interiores, quando a música cessa, e as luzes se levantam, o preconceito reencontra no entanto o seu lugar.
Encontram-se aqui todo o tipo de mulheres, de várias idades, das mais diversificadas profissões. Mães, filhas e avós, psicólogas, hospedeiras de bordo e empresárias. Todas independentes, a maioria casadas, ou com relações emocionais ou afectivas estáveis. São no entanto poucas, aquelas que dão o nome completo sem desviar o olhar para pensar uma segunda vez, e normalmente escolhem o apelido menos identificativo, para que ninguém as reconheça para lá desta sala de dedo em riste, nem que seja apenas metafórico, no trabalho, em casa porventura, na vizinhança.
Ivone, 60 anos, médica, é um desses casos. Avisa de imediato que não quer ver utilizado um apelido que a identifique no meio profissional. “Sempre fui uma desportista, faço duatlos e meias-maratonas. Isto… foi uma brincadeira em que decidi embarcar depois de uma conversa com a minha nora. Agora já cá estou há cinco meses e ganhei-lhe o gosto! Como sou de desportos mais físicos, tenho assim o complemento da dança e da flexibilidade, e faz-me sentir de bem comigo”.
Das cerca de cinquenta alunas actualmente inscritas na Academia, que tem instalações em São João do Estoril e no centro de Lisboa, perto do Marquês do Pombal, muitas levantam a mesma questão, relacionada com o receio de como os outros as poderiam julgar se soubessem que tinham aulas de dança no varão.
Com o decorrer dos dias, o à vontade começa no entanto a surgir, mas não em todas. Vera Apolinário começou assim, mas foi mudando de opinião. Aos 32 anos é empresária, proprietária de uma empresa de caixilharia para construção civil, e de uma loja de roupa. Consegue ainda arranjar tempo para ser assistente social e vir para as aulas, duas vezes por semana. “E são poucas, que por mim, vinha cá todos os dias!”, interrompe. “Estou aqui há dois anos, sou apaixonada pelo varão porque tenho um prazer enorme em fazer desporto, ando no ginásio e isto é um complemento, se é que ainda não é mais intenso. Depois, há a dança, que adoro. Estou no terceiro nível, e quero competir, tornar-me muito boa nisto!”.
Tem as pernas longas, e uma voz profunda. É uma das mais activas de todo o grupo, a que chama de “Tropa de Elite”. “Pois e é o que somos! Já tenho cá amigas para a vida! Falamos, saímos, divertimo-nos… O que aconteceu aqui, é que uma paixão comum, fez com que nos apaixonássemos umas pelas outras, enquanto pessoas, isso é tão bom!”.
O terceiro nível é o mais avançado. Ao evento nacional de Pole Dance da Figueira, que se realizaria dentro de alguns dias, apenas iam alunas deste nível, pouco mais de dez, acompanhadas das professoras de ambas as escolas.
Eliane Tozatti, 40 anos. Brasileira de Curitiba, a viver em Portugal há 18 anos, empresária no ramo da mediação imobiliária e mãe, é outro desses casos, das que até tem orgulho em dar a cara e o nome, por algo que aprendeu a gostar de fazer. “Quando comprei o varão lá para casa (quase todas as alunas do terceiro nível têm o seu próprio varão) pensei em como iria explicar isso aos meus três filhos. Não queria nenhum mal entendido. Fui ao Youtube e mostrei-lhes imagens de alguns acrobatas, homens e mulheres que fazem ginástica utilizando um varão. Eles adoraram, e disse-lhes que era aquilo que a mãe fazia, no fundo. Eles entenderam, e apoiaram-me, claro. Pessoalmente, para mim, é um desporto sensual, é assim que o vejo! Porque me aumenta a auto-estima, a confiança, porque me faz sentir mais bonita, mesmo em casa de t´shirt e chinelos!”.
Sente-se, pela proximidade dessa ocasião única para todas elas, alguma tensão no ar, os movimentos ganham intenção e músculo, aperfeiçoam-se, trajados agora com as roupas que iram utilizar no evento, e claro, com os enormes saltos altos que fazem parte do ritual.
“Ah… as roupas”…, retoma Vera. “Ai, aí é quando começa a dança a sério! Quando nos vestimos, pomos os saltos altos, soltamos o cabelo e ele fica longo a cair nas costas…”
As aulas são agora ensaios. Recomeça o espectáculo de um grupo de mulheres em busca de si próprias, na procura de algo, que não se encontra habitualmente no dia-a-dia, nas filas de trânsito, no trabalho de escritório, na caixa do super-mercado ou num qualquer outro cenário da vida quotidiana de segunda a sexta. Um sorriso espontâneo, uma dança solta, um momento puro de libertação plena e verdadeira.
O sonho deles… e o delas
Casado com Andreia, há cerca de três anos, Paulo Correia é técnico de informática e, naquele dia, ao ensaio geral para o espectáculo.
“Conhecemo-nos através de uma amiga, que frequentava as aulas da Andreia. Antes de ter esta barriga (aponta para baixo enquanto a esfrega e lança uma gargalhada) fazia escalada, e a Andreia também. Foi assim que nos conhecemos. A escalar”. Não o varão, mas… uma parede rochosa. “Sim, de facto, e olha que a escalada é bem mais fácil!”.
O fruto do amor comum, assenta-lhe pequeno, bem no colo. Tem pouco mais de um ano, chama-se Diniz, e vai a quase todas as aulas, com a mãe que vê lá ao longe, quase no horizonte do fim da sala, a dançar, com a atenção curiosa de todas as crianças enquanto observa de olhar embevecido, a sua mãe, depois de mais uma dança. Aplaude, sempre que uma música acaba. A mãe agradece, enquanto abre os braços, e o recebe em si. Perante o momento, ele, o pai, sorri. “Não somos de facto uma família convencional… Para além de termos duas profissões quase opostas, também o são nos horários. Eu trabalho de dia, e a Andreia de noite, porque a maioria das aulas são pós-laborais, como se compreende por causa das alunas. Se isto de ter uma mulher que é pole dancer profissional é o sonho da esmagadora maioria dos homens?! (sorri de timidez e procura, subtilmente escapar à pergunta). Não, nada disso! No fundo, somos marido e mulher, e gostamos um do outro. No Casino, vou vê-la dançar pela primeira vez, num palco, e sei é que vou sentir um grande orgulho por saber que a mulher de quem gosto é feliz a fazer o que gosta. E só me sinto é ofendido quando alguns colegas, ou outras pessoas me perguntam se elas aqui andam a despir-se, ou a tirar a roupa… Mas sei que também o perguntam mais por desconhecimento, ou falta de cultura, do que por maldade. E é isso que tem de se mudar, esse preconceito em relação a esta dança, a este desporto”.
Casino real
A sala do Casino da Figueira da Foz, está lotada, completamente, de bilheteira esgotada com dias de antecedência. Durante o dia do espectáculo, que só aconteceria ao início da noite, as quatro professoras da academia, foram dando workshops às mulheres que se inscreveram. E foram centenas, a querer experimentar os ensinamentos do varão, em sessões gratuitas de uma hora. “Está concorrido, não sei é como é que vou fazer o espectáculo à noite, depois disto tudo! Mas, quem corre por gosto não cansa, e dá-me um grande orgulho poder estar aqui nesta zona a mostrar a estas mulheres que isto é uma coisa bonita que as pode tornar a elas próprias também mais bonitas, mais completas e mais felizes, o que no fundo, é para o que isto que para nós é uma paixão, serve”, explica Marina, ainda ofegante, depois de mais uma aula.
Na assistência, e já depois de abertas as portas, o ambiente é familiar, literalmente. Há muitas famílias, homens, mulheres e crianças. Muitos vieram de longe para ver as filhas, as mães, as irmãs, as namoradas, as mulheres, as amigas. Outros, vieram de mais perto, pela curiosidade do momento, e pela oportunidade da ocasião de verem algo, que nunca tinham visto.
Durante a tarde, no palco, e ainda com as cadeiras vazias, mas já com o ambiente preenchido de stress, e fumaças de cigarro, os testes de iluminação e as marcações das posições ocupavam o lento passar das horas, já depois da delicada operação de montagem dos varões, com mais de cinco metros de altura, tarefa concluída logo pela manhã.
A dimensão da sala, e da tarefa que as aguarda, acanha-as e denuncia-as no primeiro olhar que lhes escapa, logo à saída dos bastidores, e em que tudo parece demasiado grande e desconhecido. Afinal, transformam-se hoje em artistas por um dia em que experimentarão a fama do momento, simplesmente pelo facto de se entregarem por inteiro a algo de que gostam. “E há coisa mais bonita que essa?!”. Cátia Santos, psicóloga, que pratica pole dance há dois anos, desenhará com o corpo, um tango entre si e o varão. “Será ele o meu par desta noite (sorri). Nervosa?! Claro que sim, e ainda bem, é bom sinal. Viemos aqui porque todas porque gostamos disto. Não somos profissionais, nem nada que se pareça, mas apenas um grupo de mulheres que descobriu esta paixão num determinado ponto da vida, em que umas precisavam de exercício, outras de auto-estima, ou de se sentirem mais mulheres, mais apetecíveis se calhar, e outras só queriam era relaxar ao fim de um dia cheio de trabalho… É simples afinal, o que nos traz aqui, e o que nos faz querer mostrar isto, já que a oportunidade surgiu, a todas aquelas pessoas que se diz que vão estar por cá esta à noite”.
E estão mesmo. Maquilhadas, vestidas, tensas, amigas do momento, que as unirá ainda mais, num grito de voz aguda, que lançam antes de pisarem o palco e encarnarem o seu papel principal.
Perto das onze da noite, a música começa finalmente a subir de tom, na exacta medida em que as palavras se tornam imperceptíveis, enquanto a luz se deita, e os olhares da assistência se levantam. Depois, um corpo, e outros, erguendo-se no etéreo, os músculos modificam-se, as carnes a tornam-se quentes, roçando o varão, hirto, e pálido perante tamanha entrega. “Também pode ser sexual, claro, como tudo na vida o pode ser. Mas o objectivo aqui, é, para além da dança, obviamente estimular a sensualidade dentro de cada uma de nós, que existe por vezes adormecida em tanta gente, demasiada, e que faz falta que saia cá para fora”.
Andreia é a primeira a surgir no palco, acompanhada de Marina. Dá o mote, transforma-se, transporta a sala consigo, e consegue-o, como gosta.
Quase duas horas de espectáculo depois, aplausos e admiração, pela beleza de cada uma, pela coreografia encenada na música posta em movimento que vem de dentro. Regressam para um último reconhecimento do público. Talvez tenha sido a última vez que muitas delas sobem a um palco, para fazerem algo que as faz sentirem-se bonitas, e admiradas. Talvez não. “Mas não será a última, isso é que não, que subiremos a um varão!”.
Não se chegam a ouvir assobios nem piropos, e os comentários mantêm-se em lume brando e em tom reservado. “Talvez as coisas estejam a mudar”.
A festa, faz-se agora nos camarins. “Correu bem. Ganhámos um dia de vida, foi bonito. É a nossa noite, meninas!”.
E foi.