abril 22, 2009

Notícias Sábado: Liliana Santos

“Sou sensual à minha maneira”


Começou na publicidade, passou pela moda, licenciou-se em sociologia, e “num acaso da vida” a televisão fez com que descobrisse a “verdadeira” vocação. Pragmática impulsiva, sensual com traços de timidez, confessa-se “feliz e agradecida”, mas ainda com “quase tudo para aprender” e “ainda mais” para viver. Entre a menina recatada e comedida que se estreava há quatro anos nos Morangos com Açúcar, e a mulher fatal, sem pudores nem preconceitos, na qual transparece a figura erótica e corpo desnudo em Second Life, poderá então encontrar-se o verdadeiro lugar de Liliana Santos, talvez porque, como assume, nunca se desprenda completamente de todos os pedaços das personagens que vão passando por si enquanto actriz.



Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira


Tem-se falado muito de si desde a estreia de Second Life. Aparece agora como nunca antes fora vista, como começou tudo isto?
Bom, a personagem é uma mulher desinibida, sem complexos ou temores em relação ao que os outros pensam, alguém que é sensual em tudo o que faz, que seduz toda a gente à sua volta sem qualquer problema moral. Como é óbvio não me revejo nisso, nem sou assim! Demorei três meses a compor a personagem, cheguei até a ir a bares de strip tease para perceber como as dançarinas conseguem tornar-se tão sexuais, como atraem os homens, quando dançam, quando se movem em frente a eles, e até quando andam... Essas cenas de que se tem falado, encarei-as da forma mais natural possível porque é o meu trabalho e um actor pode ter pudor como pessoa, mas não o deve ter enquanto profissional.

As cenas de sexo com Sandra Cóias, o lap dance com Luís Figo têm sido muito utilizadas na divulgação do filme...
São cenas muito sensuais, bem filmadas de facto. A Raquel, a minha personagem, é uma mulher livre de preconceitos, muito atenta ao detalhe que a pode favorecer e percebe logo que a Liza, que é a personagem desempenhada pela Sandra Cóias, poderia ser uma presa fácil para o seu pequeno jogo de sedução, uma mulher cheia de carências, que estava a viver um problema conjugal. Ela aproveita-se dessa situação porque é isso que ela faz. Já a cena com o Luís Figo é diferente. Passa-se em Itália, ele é um realizador que está a fazer um casting e a Raquel, claro, não deixa de o seduzir, e faz-lhe um lap dance... (sorri)

Pressenti algum embaraço, enquanto me contava essa história...
A questão é essa... Ela é capaz de coisas que eu não sou, uma mulher que faz de tudo para conseguir o que quer, sem olhar a meios e consequências, nem a quem magoa pelo caminho!
Uma cabra portanto...
Uma cabra, exactamente!

Já lhe aconteceu estar a ver-se num ecrã, e não se reconhecer, pelo menos durante alguns segundos?
Engraçado falar nisso, mas já de facto. Esta personagem é um exemplo disso, mas aconteceu também noutras ocasiões, até porque sou quase sempre a vilã das histórias onde entro!

Regressando aqui um pouco à cena de que mais se tem falado, desde a estreia do filme, e pelo que me dizia, devem ter-se divertido bastante...
Tento explicar às pessoas que é uma cena com uma mulher, feita de uma forma sensual... Nunca sequer cheguei a estar completamente despida! Claro que não é hábito estas cenas acontecerem no cinema português, e calculo que por isso se tenha falado tanto disto! Mas depois da gravação, talvez pela intimidade do momento, ficámos amigas!

Tinha a noção de que este papel, pelo carácter da personagem e pela forma como o assumiu, provavelmente lhe trariam uma notoriedade diferente da que estava habituada?
Sim, tinha essa noção, claro! Quando falamos de preconceitos, cada um tem os seus, claro. Mas se quero ser uma actriz cada vez melhor, não posso levar os meus para a cena, o que só me vai criar limitações. Tenho por princípio que os actores têm de estar preparados para tudo!

Calculo que lhe tenham falado muito de Soraia Chaves nos últimos tempos...
(Sorri) Claro que sim, é natural porque ela entrou em alguns dos filmes mais vistos dos últimos anos. Sem querer entrar em polémicas nem em comparações, eu já fiz alguns outros papéis antes deste e não tenho receio nenhum de fazer este tipo de papéis mais ousados, desde que ache que são adequados para mim enquanto actriz.

E não receia que a partir de agora, a passem a convidar apenas para mostrar o corpo, ou que, de uma outra forma, os espectadores a procurem apenas pelo seu aspecto físico?
Há pessoas que vão ver o filme apenas por causa de uma cena, e há outras que pensam nisto como um todo. Eu tento é fazer o meu trabalho o melhor que posso e sei, com a intenção de aprender, melhorar...

Como é que uma actriz se prepara para uma cena em que vai expor o seu corpo, como o faz neste filme?
O ambiente de gravações é diferente, quando se estão a gravar cenas em que temos de nos expor um pouco mais, o ambiente no estúdio muda, há um certo nervosismo, claro, a equipa é reduzida ao mínimo, para nos proporcionar um maior à vontade, para encontrarmos ângulos seguros para certas partes do nosso corpo...

Sem querer estar a ser moralista, longe disso, como reagiram os seus familiares mais próximos à estreia do filme?
A minha mãe e toda a família já estavam prevenidos e devidamente informados, e devo dizer que nunca tomo uma grande decisão sem a ajuda deles! Já tinha até discutido o guião com a minha mãe e ela sabe que se fosse algo de errado eu nunca o faria. Claro que teve de confiar em mim mas, felizmente, os meus pais percebem que isto é o meu trabalho e felicitaram-me logo no final da antestreia.

E a Liliana, o que acha do filme?
Em termos de fotografia acho que está brutal, assim como a banda sonora. Em apenas quatro dias já ia quase em trinta mil espectadores, o que é muito bom!

Tendo no elenco alguns ´actores` como Carlos Malato, Fátima Lopes, Luís Filipe Borges e Figo, como decorreram as gravações?
Foi uma experiência maravilhosa sabe?! Estiveram todos bem, quer eles, quer os outros colegas que participaram. Trabalhámos durante os meses de Verão, estivemos juntos todo aquele tempo, foi fantástico, ficámos quase todos amigos!

Mas fala-se muito em rivalidades neste mundo artístico, principalmente entre as novas gerações de actores...
Sim, claro que isso existe, até porque faz parte do dia a dia, do nosso e de todos, está relacionado com o quotidiano, mas nada que não se possa ultrapassar...

Tem actores de referência de que goste particularmente?
Gosto muito da Meryl Streep, do Russel Crowe... sei lá... de tantos outros! Vejo muitos filmes, dos clássicos aos mais actuais, é importante para a construção das personagens, para aprender, até porque não tenho uma formação académica de representação e tenho de absorver informação de todo o lado, dos técnicos aos colegas, passando pelo que vejo, por tudo que me rodeia...

E não tendo esse formação de que me fala, é fácil para si separar-se das suas personagens, no final das gravações?
Não, nunca o é, nada mesmo.., Mas opto por guardar o que cada uma tem de bom, e assim mais valias delas passam assim a fazer parte da minha personalidade, enriquecem-me, ajudam-me a crescer.

No caso concreto desta, o que lhe trouxe ela a si, enquanto Liliana Santos?
A segurança na atitude, na postura... Aquela sensualidade feroz provém dessa confiança, e no final, acabei por ficar com um pouco disso em mim, e passei a conhecer-me um pouco melhor.

Mas não se sentia antes, uma mulher sensual?
Acho que podemos ser sensuais de muitas formas, sem isso ser de tal forma explícito, como é na personagem. Sou sensual à minha maneira, de acordo com aquilo que gosto em mim por dentro e por fora.

Mas não me vai dizer que só se preocupa com o interior...
Não, claro que não! Acho que é o conjunto que torna a pessoa bonita, cuido-me por fora, com a alimentação, vou ao ginásio quando posso, mas também nunca me esqueço do interior que se vai igualmente estimando e construindo no dia a dia.

Ao contrário da sua personagem, parece-me mais pragmática, não tão impulsiva...
Depende das situações, sabe?! Há coisas que vamos moderando com a idade, com a aprendizagem... Sou de facto impulsiva, embora tenha aprendido a controlar-me!

Não tem receio da fama?
Temos de pensar que temos de nos valorizar a nós próprios pelo que fazemos, pelo que somos. É bom sentirmo-nos bem quando fazemos algo bom, mas não creio que o caminho seja o de acharmos que somos melhores que o outro, porque ninguém é insubstituível. É difícil o caminho, é preciso ir criando uma base segura para não deitar tudo a perder. O Ruy de Carvalho, a Eunice Muñoz por exemplo, e outros como eles, esses sim, já estão num patamar diferente, só temos a aprender com eles.

O que lhe parece, enquanto actriz, que os filmes mais vistos de sempre do cinema português, como aconteceu em O Crime do Padre Amaro e Call Girl por exemplo, ou como está a acontecer com este Second Life, sejam promovidos com base em cenas mais arrojadas, utilizando o sexo como chamariz do espectadores?
Não tenho nada contra, são apenas estratégias de promoção que resultam! Sabemos que existem determinadas condicionantes que chamam o público às salas de cinema, isso é inquestionável, mas não é apenas um fenómeno português, pelo contrário!

Sei que anda a ter aulas de inglês, é um objectivo para si construir uma carreira internacional?
Gostava, claro que sim, em termos de carreira é algo em que penso, mas ao nível pessoal há laços familiares que me custariam deixar para trás e não sei se alguma vez o irei fazer. É uma questão que decidirei com o passar do tempo.

Consegue encontrar as principais diferenças entre a Liliana que apareceu nos Morangos há quatro anos, e a Liliana de hoje, que aos vinte e oito anos começa a ter um sucesso que se calhar nesse tempo, não esperaria?
Acho que amadureci enquanto pessoa de facto... Quantos mais trabalhos fazemos, mais conhecimentos adquirimos, é assim esta vida, retirando sempre o que é bom, deixando o mau para trás! Mas o que diz, é verdade, não o esperava, de todo. Tudo me aconteceu por acaso, quando estava na faculdade a estudar e me convidaram para um casting dos Morangos. Acabei por ir, durante as férias de Verão, já depois de ter acabado o curso. Quando acabaram as gravações, não pensava continuar, mas passados poucos dias convidaram-me para uma outra novela. E assim começou!

Começou?
Foi nessa altura que descobri verdadeiramente que queria ser actriz, algo em que nunca tinha pensado verdadeiramente, apesar de fazer publicidade e alguns trabalhos de moda desde os quinze anos.

Os Morangos com Açúcar foram a sua rampa de lançamento, assim como de outros colegas seus. Como vê o fenómeno?
Sim, de facto aconteceu comigo, como com tantos outros jovens actores... A verdade é que aquilo acaba por ser um casting aberto ao país, como alguém já disse. As pessoas surgem e depois, algumas acabam por ter a oportunidade de avançar, e isso é bom.

Chegou então a licenciar-se, mas nunca exerceu, é assim?
É de facto verdade, mas acho que também nunca pensei verdadeiramente em fazê-lo! Queria ser professora, investigadora, sei lá...

Actualmente integra o elenco da novela Podia acabar o Mundo, da SIC. Como descreve a sua personagem?
Faço o papel de uma advogada, a Marta, que é extremamente ambiciosa e não olha a meios para atingir os fins. Tem um objectivo muito marcado, subir na vida, e por isso deita-se com o patrão e mantém relacionamentos que lhe tragam vantagens.

Lá está... de novo a vilã!
(Sorri) Não sei de facto porque me convidam normalmente para fazer papeis de má da fita! Não sei mesmo! Talvez porque a primeira personagem que fiz deste género, tenha sido convincente, ou tenham achado que tinha esse perfil, talvez...

Pelo menos, é habitual os actores dizerem que esse tipo de papéis é mais desafiante, o que lhe parece?
Sim, é verdade... É mesmo.

Consegue imaginar-se daqui a dez, quinze anos, com um livro escrito, uma árvore plantada e uma família para criar, ou não é por aí?
Claro que sim, e uma carreira cheia de coisas boas, feitas e por fazer também. A árvore de resto já plantei, um pessegueiro na quinta biológica dos Olivais, e quanto ao livro, bem, também já tenho um, sobre culinária... Adoro cozinhar aliás, o meu domingo mais habitual é passar o dia inteiro ao fogão a fazer bacalhau com broa, cabrito, empada de aves, doces de todo o tipo...! Quanto à família para criar, sim, sem dúvida claro, também quero ter filhos daqui a algum tempo, é um dos meus sonhos.

Aos vinte e oito anos, e sendo uma mulher bonita, já pensou alguma vez sobre os efeitos do tempo e da idade, pessoalmente ou em termos de carreira?
Ainda não pensei muito profundamente sobre isso, de facto, mas talvez sinta de vez em quando, nos aniversários uma certa nostalgia, não sei... Espero evoluir, saber envelhecer com graciosidade, até porque se perdemos por um lado ganhamos de outra forma. Acima de tudo quero continuar a dar valor às coisas boas, mesmo que para isso tenha que passar pelas más, até porque são elas que nos ajudam a valorizar e a dar uma medida certa a tudo o que nos vai acontecendo ao longo da vida.

A apresentação ficou de lado depois do "Factor M" e do TOP + ou gostaria de regressar também a essa área?
Adorei as experiências que tive como apresentadora mas na realidade, descobri que o que me dá mesmo prazer é representar!

Sente-se hoje, uma mulher realizada?
Sinto sim que é isto que quero ser, mas sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer, tenho de aperfeiçoar a voz, a expressão corporal, a presença, gostava de experimentar o teatro... Não sei quando isso irá acontecer, nem se alguma vez lá chegarei! E depois, há também a parte pessoal, preciso ainda de viajar, passar uns tempos no Oriente, aprofundar o meu conhecimento de outras culturas, de mim própria, tanta coisa que falta ainda, tanta... Mas apesar de tudo, digo que hoje, sou uma mulher feliz, sim!

É raro ouvir-se dizer isso assim, de forma tão aberta e com esse sorriso...
Sim, eu sei... Naqueles dias em que acordo mais mal disposta, ou sem paciência para nada, obrigo-me a pensar que é um privilégio poder fazer o que gosto e me dá prazer, e penso naquelas pessoas, tantas, que não têm esse privilégio. Tenho de estar agradecida por isso.



Perfil
Liliana Santos nasceu em Lisboa, em Setembro de 1980. Começou como manequim ainda adolescente e só há quatro anos apostou na televisão, e se assumiu enquanto actriz. Depois de ter sido escolhida para assumir a imagem de algumas das maiores marcas portuguesas, entre a publicidade e a ficção o salto tornou-se inevitável. Apesar de se ter estreado como actriz, na série juvenil da TVI, Morangos com Açúcar, em 2005, foi no entanto, nos ecrãs da SIC que Liliana apareceu ao público pela primeira vez, no então reality show, Acorrentados, na altura ainda sem o protagonismo que a levaria, anos mais tarde a regressar aos ecrãs da estação de Carnaxide, englobada no novo projecto de Nuno Santos para o Canal, e na aposta assumida na produção nacional.
Para trás ficaram participações como figurante em Inspector Max, Queridas Feras e Maré Alta, e mais tarde, já como actriz de pleno direito em Ninguém com Tu, Câmara Café, Estranho, Floribella, Chiquititas, Resistirei, Liberdade 21 e em Podia acabar o Mundo que agora lhe ocupa os dias de trabalho.
Estreia-se agora no cinema com Second Life de Alexandre Valente, produtor de Corrupção e Crime do Padre Amaro.

Notícias Sábado, Fevereiro de 2009

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