Dias plenários
A alguns dias de regressar ao Parlamento, a mais jovem deputada do PS preenche os seus dias de trabalho entre o Ministério da Administração Interna, os sons do seu Ipod e os livros cujas palavras a acompanham para todo o lado.
Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
Largo do Rato. O edifício sede histórico do Partido Socialista pontifica, para lá do trânsito caótico, num regresso à normalidade rotineira típica dos dias seguintes aos finais da época estival. Marta Rebelo espera-nos, na entrada do Metropolitano. Vê-se, e percebe-se ao longe.“Olá!”. Um sorriso, e mais outro. As pessoas observam-na, sempre que está, e independentemente da circunstância, porque não passa despercebida. “Porque sou bonita ou porque sou deputada? Não sei, nem penso muito nisso sinceramente”.
Não gosta nada que lhe falem disso constantemente, da estética, mas não é por esse ou por outro qualquer motivo que a esconde ou se envergonha dela, pelo contrário. “Para se ser competente tem de se andar mal vestida e ter um aspecto horrível? Isso é apenas mais um preconceito que infelizmente ainda existe, e ao qual me fui habituando com o tempo. Podia ter sido florista, jornalista, gerente de hotel, sei lá... mas olha, limitar-me-ia a ser sempre eu própria, fiel aos meus princípios e àquilo em que acredito”.
Mulher por direito
Marta Rebelo entrou para a Juventude Socialista aos 15 anos. “Sempre me atraiu a política. Porquê? Pode ser um cliché, mas é tão simples como querer mudar alguma coisa”. Ao longo dos cinco anos do curso de Direito que concluiu na Clássica, com 15 valores, acabou por descobrir o que haveria de ser, ou pelo menos o que o destino lhe preparava, enquanto trajecto profissional. Experimentou o jornalismo no extinto Euronotícias, estagiou no gabinete de Sousa Franco, chegou a assistente universitária logo aos 24 anos. “Ainda sou jovem, mas não costumo pensar muito no futuro! Não ando aqui a divagar ao sabor do vento, claro, mas deixo-me ir... Não tenho, ao contrário do que as pessoas acham de quem anda na política, uma agenda secreta tipo mapa do tesouro, de para onde vou e como lá hei-de chegar”.
Sempre gostou de escrever, “uma paixão” que ainda cultiva no seu diário, “mas esses pensamentos ficam apenas para mim”, e no blog que mantém activo há alguns anos. Depois, exercita os pensamentos e agiliza as palavras nas crónicas que preenche em vários jornais, entre os quais, o do Benfica. “Ah, essa é outra das minhas paixões, o futebol, e o meu clube. Sou fanática”.
Marta sabe as épocas, os títulos, os nomes de jogadores dos anos oitenta, mesmo os de bigode, os melhores marcadores de cada época, e é perfeitamente capaz de manter qualquer conversa de café sobre o assunto. Desfia memórias passadas no Estádio da Luz, que frequenta desde pequena, recorda grandes jogos e utiliza sempre o “nós”, quando fala da “sua” equipa. “Sou fanática, até leio a Bola todos os dias! Insultos ao árbitro? Depende de com quem estou, alguns são mentais apenas, outros... não!”, diz com verdade temperada em humor.
Aos trinta anos, e para além do campo desportivo, na política e depois de ter entrado na Assembleia da República em substituição de Vera Jardim como uma das deputadas mais jovens no Parlamento, por lá permaneceu durante seis meses. Recorda agora essa experiência como “positiva”, e prepara um regresso mais ou menos anunciado. “Provavelmente, ainda esta semana, sim! É um lugar de privilégio para alguém que quer servir o país, ajudar a uma mudança de que precisamos enquanto povo que ainda tem alguns complexos e precisa de ser mais optimista”.
Política e não só...
Hora de almoço. “Não tenho nos meus hábitos cumprir esta refeição, mas bebo um sumo de laranja! Por causa da dieta?! Não, nada disso, tem a ver com o meu próprio ritmo diário”. Trabalho, trabalho e mais trabalho...? “Sim, mas não apenas. Aprendi cedo que a vida não é apenas isso. Pertenço a uma geração muito competitiva, mas não me sinto feliz apenas a trabalhar, preciso de pelo menos falar com alguém amigo ao final do dia, nem que seja ao telefone, de sair de casa um pouco, de ter tempo para aquilo que gosto, de ouvir música, aliás ando sempre com o meu Ipod cheio, de ler... Ando a ler Os Maias outra vez, para aí pela vigésima vez, mas nunca me canso”.
Na esplanada do Hotel Regency, a vista sobre a baixa Pombalina, com o rio em plano de fundo, e as sombras recortadas pelos telhados é maior do que as palavras podem descrever. “Lindo, não é?!”.
Está quase na hora de regressar ao Terreiro do Paço, ao Ministério, onde trabalha. “O dia ainda vai ser longo, mas por ali, ao contrário de outros ministérios, bom é quando não se passa nada de grande, e corre tudo dentro da normalidade”.
A cadência da conversa tem agora mais pausas, porque o contexto pede, e a personagem pública vai começando a dar lugar à personalidade mais real. “Sou feliz, mas tenho ainda tanto para aprender, para amadurecer. Sempre lidei bem com o facto de ser mulher neste mundo. Engraçado, antes de estar aqui na política e apesar de ter o costume de dizer que sou jurista, pensava que haviam poucas diferenças entre homens e mulheres, talvez porque estivesse bem rodeada de pessoas sem complexos com isso. Mas mudei a minha opinião e por vezes tenho de reagir apenas mentalmente, outras entro mesmo em confrontação directa, quando sinto que estou a ser insultada enquanto mulher e ser humano”.
Ser ou não ser... bonita
“Tenho cuidado comigo, por dentro e por fora. Tenho um amigo que me diz que as mulheres na política só deviam ser aceites depois dos cinquenta anos! Claro que não estou de acordo com isso, mas espero que o tempo ajude a que as mentalidades mudem, que se diluam os preconceitos, porque se pode tornar cansativo, apesar de estar já habituada, eu como tantas outras mulheres, a ter de provar sempre tudo, pelo menos duas vezes”. Mas não perde o sorriso. “Isso nem por sombras. Há alturas para tudo, em todas as idades, para ter juízo e para o perder de vez em quando...”.
Ao final da tarde, o Centro Cultural de Belém está cheio das maiores figuras do Partido Socialista para a apresentação da Fundação Res Pública. Marta senta-se na primeira fila, cumprimenta os colegas de partido, cumpre os requisitos e mantém a postura serena, de estado, apenas de espírito por enquanto. “Perguntam-se sempre se um dia gostaria de ser presidente da República, primeira-ministra... Não penso nisso para já”. Troca algumas palavras com José Sócrates. “De que falámos?!”. Um sorriso. “Segredo de Estado!”, graceja.
Gosta de se considerar uma mulher de esquerda. “É difícil explicá-lo sem entrar em grandes dissertações, mas simplificando, acho que acaba por ter a ver com princípios como a Igualdade, a Liberdade de atingir um plano em que se tornem plenas, até na felicidade de cada um”.
A sua, onde fica? Um sorriso mais do que facial, que diz tanto quanto carrega sensações que ficam apenas perceptíveis na ortografia daquele pequeno momento. “Sou teimosa, persistente... Ainda não escrevi um livro, não plantei uma árvore, não tive um filho, falta-me viver mais ainda, mas lá chegarei”.
Marta Rebelo gosta de ir ao cinema, depois de um dia cheio. Acompanhada de Filipe Barreiros, um amigo ainda dos tempos de faculdade, escolhe o filme do serão. “Este parece-me bom, tem o Ethan Hawke! Não é o George Clooney mas...”, humoriza. Não sabe muito ainda sobre o que irá ver, mas de vez em quando gosta de ser levada pelo acaso do momento. “Nisto, como em muitas outras coisas! Se há coisa que a vida tem de bom é a capacidade de nos surpreender e eu preciso disso para estar bem comigo e com o que me rodeia”. Luzes, câmara, acção, silêncio.
outubro 13, 2008
Pública: Um dia com... António Marinho Pinto
Dias com Ordem
Levanta-se de madrugada, gosta de passear pela blogosfera, adora um excesso alimentar “de vez em quando”, e confessa sentir-se ainda “um estrangeiro” em Lisboa.
Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
Praça do Rossio, Lisboa. As cores das roupas, as tonalidades das peles que se passeiam, ou se deixam ficar embaladas nas conversas que se vão trocando naturais pelos passeios em calçada do centro da capital, desnudam as diferenças mais visíveis entre esta e as demais cidades portuguesas. “Ainda me sinto um estrangeiro aqui, de facto”, começa por assumir, nas primeiras palavras de um dia passado na primeira pessoa, enquanto espreita pela janela, olhando o mundo que escapa para além das vidraças da Ordem.
Na sala de reuniões do edifício sede da Ordem dos Advogados, emoldurada no seu perímetro por uma biblioteca que conta os numerosos capítulos da história da Justiça portuguesa, a mesa das reuniões, ao centro, começa a fazer decair os primeiros sinais do que já se conhece de António Marinho Pinto. Directo, frontal, um homem “mais próximo do povo”, bastante mais até, do que o povo está habituado. “Sabe que para além de advogado fui professor, e devido ao facto de a minha história profissional ter passado também pelo jornalismo, aprendi que temos de explicar às pessoas estas coisas da Justiça, dos tribunais... Ser simples é muito complicado sabe?! E sempre achei que quando uma pessoa se escuda demasiado numa linguagem técnica e imperceptível isso apenas serve para disfarçar a incompetência”. Sorri. Algo que se torna comum, ao longo do dia, sem nunca ser associado no entanto a alguma leveza, pelo menos aparente. “Levo isto a sério, é um trabalho que me ocupa o dia inteiro, bastante mais complicado e trabalhoso do que esperava, pois esta é uma estrutura muito pesada, burocrática, pouco agilizada.... Há muito a fazer ainda, mas quem não gosta de calor não trabalha na cozinha e eu não estou nada arrependido de cá estar. Quanto a mim? Tenho saudades dos tribunais, mas acho que não o devo fazer, pelo cargo que ocupo e esta regra só tem excepção para mim em casos que tenham a ver com violações de direitos humanos. Faltam ainda mais de dois anos de mandato, logo se vê se continuo ou não...”.
Por Direito próprio...
Filho de um alfaiate e de uma camponesa doméstica, aos 58 anos, o advogado de Coimbra com a naturalidade de Amarante impressa no bilhete de identidade, foi eleito para bastonário da Ordem dos Advogados depois de começar a aparecer aos olhos do público mais frequentemente nas manhãs da SIC, no programa Fátima. “Sempre gostei de me dirigir às pessoas que estão para além do circuito judicial mas que no fundo são a razão da sua existência, e muitas vezes acabam por ser deixadas à margem por causa do discurso que impera nesta área”, explica, enquanto vai apresentando os seus colaboradores, e o próprio espaço, onde passa “mais tempo do que em casa”, humoriza.
“É quase hora de almoço... Se sou um bom garfo?! Não sou homem de muitos vícios mas gosto de comer um bom bife mergulhado em molho, com um ovo a cavalo e umas batatas fritas cheias de sal a condizer... Mas só uma vez por mês”, lança numa advertência bem intencionada ao seu próprio apetite. Excessivo e controlado ao mesmo tempo são dois traços de carácter que apesar de quase conflituosos entre si na etimologia, parece gostar de conciliar... “Tenho para mim que quando se gosta realmente de alguma coisa, se deve aproveitar isso ao máximo. Como a maioria dos prazeres, o da boa comida não faz muito bem á saúde, por isso tenho de me controlar um pouco, é verdade, até porque não tenho tempo nem feitio para muito exercício físico”.
Noites breves
Levanta-se normalmente de madrugada, pelas cinco da manhã. “Sim, é um ritual que já cumpro há muitos anos. Acordo, por vezes até vejo um filme, mas por norma faço o meu jogging matinal pela blogosfera, esse sim, um desporto que gosto de praticar! Depois preparo-me para mais um dia de trabalho”.
Enquanto nos dirigimos para o restaurante Regional, numa transversal da rua Augusta, abandona um pouco a postura de bastonário, que, a bem da verdade nunca lhe tolda completamente a personalidade nem o faz distanciar-se demasiado de si próprio. Caminha e conversa sobre o que lhe apetece almoçar, sobre o seu Benfica, sobre as pessoas nas ruas, “gente, sempre muita gente”, sobre o tempo. “Sei que a minha postura me valeu muitos amigos e inimigos ao longo da vida. Mas valorizo mais os primeiros!”. Sorri, como aliás costuma fazer sempre que o assunto se torna mais incómodo, mas não abandona o pensamento. “Sabe que quanto mais uma pessoa se expõe maiores são as hipóteses que tem de arranjar uns e outros. Há certas coisas que não previ, os ataques pessoais de tanta gente que não se conforma com o facto de querer cumprir o meu programa por exemplo mas isso pessoalmente não me afecta nada”.
Deixou de beber e de fumar há mais de vinte cinco anos... “só uma ou duas imperiais uma vez por mês, outra vez a questão do controlo dos prazeres e do gosto pela saúde”, deixa escapar com humor, enquanto lê a ementa e se decide por cherne à moda da casa, com água fresca a servir de acompanhamento. Antes, uma sopa, e um leve fio de azeite, num desenho gastronómico que lhe “recorda” a infância.
Ir, exercer, fazer
Ler é um dos seus fascínios mais rotineiros, e as palavras que consome distanciam-se entre si quase que meta-fisicamente, do Código Civil à poesia que o “encanta”, e sem a qual não pode deixar de debruçar a vista e a imaginação, por um dia que seja. “Todos os dias leio poesia, de Camões a Pessoa, passando pelo Jorge de Sena, pelo Baudelaire, pelo Rimbaud... Em relação a este, costumo dizer que se devem temer os políticos que escreveram apenas um livro, mas que em relação aos escritores, normalmente essa única obra é uma obra prima que fica para sempre”. O gosto pela leitura, e o abandono da poesia na conversa, acontece com o nome de Carl Sagan, que sempre gostou de ler. Astrónomo “amador”, como faz questão de mencionar, descobriu o espaço para além do mundo quotidiano ainda criança, e fala do tempo, da sua relatividade, do seu excesso e da sua falta, como uma das causas desta sua paixão. “Fascina-me isso, esta ideia de que quando olhamos o céu passeamos no tempo. Vida extraterrestre?! É tão provável que exista como improvável que tente contactar connosco”:
A música também pertence ao seu ritmo diário, no escritório e nas viagens semanais de regresso a casa, em Coimbra, também elas um outro ritual que não dispensa, normalmente à sexta-feira.“Está quse na hora de regressar, mas de facto não posso fazer a viagem sem música. Posso dizer-lhe que gosto um bocadinho de tudo, mas ando sempre no carro com o Dark Side of the Moon dos Pink Floyd, com a Bethânia com o Elvis... adoro o Elvis! Se danço?! Não tenho jeito!”.
Levanta-se de madrugada, gosta de passear pela blogosfera, adora um excesso alimentar “de vez em quando”, e confessa sentir-se ainda “um estrangeiro” em Lisboa.
Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
Praça do Rossio, Lisboa. As cores das roupas, as tonalidades das peles que se passeiam, ou se deixam ficar embaladas nas conversas que se vão trocando naturais pelos passeios em calçada do centro da capital, desnudam as diferenças mais visíveis entre esta e as demais cidades portuguesas. “Ainda me sinto um estrangeiro aqui, de facto”, começa por assumir, nas primeiras palavras de um dia passado na primeira pessoa, enquanto espreita pela janela, olhando o mundo que escapa para além das vidraças da Ordem.
Na sala de reuniões do edifício sede da Ordem dos Advogados, emoldurada no seu perímetro por uma biblioteca que conta os numerosos capítulos da história da Justiça portuguesa, a mesa das reuniões, ao centro, começa a fazer decair os primeiros sinais do que já se conhece de António Marinho Pinto. Directo, frontal, um homem “mais próximo do povo”, bastante mais até, do que o povo está habituado. “Sabe que para além de advogado fui professor, e devido ao facto de a minha história profissional ter passado também pelo jornalismo, aprendi que temos de explicar às pessoas estas coisas da Justiça, dos tribunais... Ser simples é muito complicado sabe?! E sempre achei que quando uma pessoa se escuda demasiado numa linguagem técnica e imperceptível isso apenas serve para disfarçar a incompetência”. Sorri. Algo que se torna comum, ao longo do dia, sem nunca ser associado no entanto a alguma leveza, pelo menos aparente. “Levo isto a sério, é um trabalho que me ocupa o dia inteiro, bastante mais complicado e trabalhoso do que esperava, pois esta é uma estrutura muito pesada, burocrática, pouco agilizada.... Há muito a fazer ainda, mas quem não gosta de calor não trabalha na cozinha e eu não estou nada arrependido de cá estar. Quanto a mim? Tenho saudades dos tribunais, mas acho que não o devo fazer, pelo cargo que ocupo e esta regra só tem excepção para mim em casos que tenham a ver com violações de direitos humanos. Faltam ainda mais de dois anos de mandato, logo se vê se continuo ou não...”.
Por Direito próprio...
Filho de um alfaiate e de uma camponesa doméstica, aos 58 anos, o advogado de Coimbra com a naturalidade de Amarante impressa no bilhete de identidade, foi eleito para bastonário da Ordem dos Advogados depois de começar a aparecer aos olhos do público mais frequentemente nas manhãs da SIC, no programa Fátima. “Sempre gostei de me dirigir às pessoas que estão para além do circuito judicial mas que no fundo são a razão da sua existência, e muitas vezes acabam por ser deixadas à margem por causa do discurso que impera nesta área”, explica, enquanto vai apresentando os seus colaboradores, e o próprio espaço, onde passa “mais tempo do que em casa”, humoriza.
“É quase hora de almoço... Se sou um bom garfo?! Não sou homem de muitos vícios mas gosto de comer um bom bife mergulhado em molho, com um ovo a cavalo e umas batatas fritas cheias de sal a condizer... Mas só uma vez por mês”, lança numa advertência bem intencionada ao seu próprio apetite. Excessivo e controlado ao mesmo tempo são dois traços de carácter que apesar de quase conflituosos entre si na etimologia, parece gostar de conciliar... “Tenho para mim que quando se gosta realmente de alguma coisa, se deve aproveitar isso ao máximo. Como a maioria dos prazeres, o da boa comida não faz muito bem á saúde, por isso tenho de me controlar um pouco, é verdade, até porque não tenho tempo nem feitio para muito exercício físico”.
Noites breves
Levanta-se normalmente de madrugada, pelas cinco da manhã. “Sim, é um ritual que já cumpro há muitos anos. Acordo, por vezes até vejo um filme, mas por norma faço o meu jogging matinal pela blogosfera, esse sim, um desporto que gosto de praticar! Depois preparo-me para mais um dia de trabalho”.
Enquanto nos dirigimos para o restaurante Regional, numa transversal da rua Augusta, abandona um pouco a postura de bastonário, que, a bem da verdade nunca lhe tolda completamente a personalidade nem o faz distanciar-se demasiado de si próprio. Caminha e conversa sobre o que lhe apetece almoçar, sobre o seu Benfica, sobre as pessoas nas ruas, “gente, sempre muita gente”, sobre o tempo. “Sei que a minha postura me valeu muitos amigos e inimigos ao longo da vida. Mas valorizo mais os primeiros!”. Sorri, como aliás costuma fazer sempre que o assunto se torna mais incómodo, mas não abandona o pensamento. “Sabe que quanto mais uma pessoa se expõe maiores são as hipóteses que tem de arranjar uns e outros. Há certas coisas que não previ, os ataques pessoais de tanta gente que não se conforma com o facto de querer cumprir o meu programa por exemplo mas isso pessoalmente não me afecta nada”.
Deixou de beber e de fumar há mais de vinte cinco anos... “só uma ou duas imperiais uma vez por mês, outra vez a questão do controlo dos prazeres e do gosto pela saúde”, deixa escapar com humor, enquanto lê a ementa e se decide por cherne à moda da casa, com água fresca a servir de acompanhamento. Antes, uma sopa, e um leve fio de azeite, num desenho gastronómico que lhe “recorda” a infância.
Ir, exercer, fazer
Ler é um dos seus fascínios mais rotineiros, e as palavras que consome distanciam-se entre si quase que meta-fisicamente, do Código Civil à poesia que o “encanta”, e sem a qual não pode deixar de debruçar a vista e a imaginação, por um dia que seja. “Todos os dias leio poesia, de Camões a Pessoa, passando pelo Jorge de Sena, pelo Baudelaire, pelo Rimbaud... Em relação a este, costumo dizer que se devem temer os políticos que escreveram apenas um livro, mas que em relação aos escritores, normalmente essa única obra é uma obra prima que fica para sempre”. O gosto pela leitura, e o abandono da poesia na conversa, acontece com o nome de Carl Sagan, que sempre gostou de ler. Astrónomo “amador”, como faz questão de mencionar, descobriu o espaço para além do mundo quotidiano ainda criança, e fala do tempo, da sua relatividade, do seu excesso e da sua falta, como uma das causas desta sua paixão. “Fascina-me isso, esta ideia de que quando olhamos o céu passeamos no tempo. Vida extraterrestre?! É tão provável que exista como improvável que tente contactar connosco”:
A música também pertence ao seu ritmo diário, no escritório e nas viagens semanais de regresso a casa, em Coimbra, também elas um outro ritual que não dispensa, normalmente à sexta-feira.“Está quse na hora de regressar, mas de facto não posso fazer a viagem sem música. Posso dizer-lhe que gosto um bocadinho de tudo, mas ando sempre no carro com o Dark Side of the Moon dos Pink Floyd, com a Bethânia com o Elvis... adoro o Elvis! Se danço?! Não tenho jeito!”.
Notícias Magazine: Terapias Alternativas, Segunda opção ou a derradeira resposta interior?
A maioria provém de conhecimentos milenares que, fundamentam até grande parte dos conhecimentos adquiridos pela medicina convencional. Para o corpo e para o espírito, acupunctura, reiki, shiatsu, terapia de som, são as curas da moda em Portugal.
Na última década, a procura de medicinas alternativas tem crescido consideravelmente entre os portugueses. Num momento em que se definem os quadros legais para enquadrar apenas algumas das dezenas de terapias disponibilizadas no nosso país, as razões para o crescimento da procura não surpreendem. Desiludidas com a medicina convencional, encharcadas em medicamentos, cansadas das listas de espera, porventura órfãs de uma crescente obsessão pela saúde do corpo, pelo bem-estar interior, cada vez mais pessoas vão procurando novos caminhos para readquirir ou conquistar o bem-estar.
Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patricia Moreira
“Relaxe… Isso... Esvazie a cabeça, deixe-se ir”. A atmosfera preenche-se de aromas tranquilizadores, flores de artemísia incensadas em fios que rumam sem lugar marcado na ligeira corrente de ar, dissipando-se nas ondas sonoras, serenas, que tranquilizam o ambiente e as primeiras dores de quem por ali passa, procurando afastar o sofrimento.
No terceiro andar do Atheneu de Lisboa funciona, desde 1992, a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa, a primeira do país. Funcionando segundo o modelo da Universidade de Medicina Chinesa de Nanjing, com a qual mantém também uma colaboração estreita, nomeadamente no estágio de final de curso de cinco anos que é feito naquela instituição, uma das mais conceituadas na área, dedica-se ao ensino e à prática da cura. Pelas mãos dos mais de oitocentos alunos que por aqui passaram ao longo dos anos, largos milhares de pacientes de todas as idades e proveniências sociais já chegaram, partiram e... regressaram também. “Logo desde o primeiro ano os alunos começam a lidar com pacientes, devidamente acompanhados por profissionais mais experientes, claro! Mas temos de tudo, de professores a juízes, de desempregados a cirurgiões... Muitos destes que vêm cá como doentes, depois voltam, com curiosidade de ficar a conhecer a medicina que os conseguiu curar”, explica o anfitrião e fundador da Escola, José Faro.
“Tranquila... Sente-se melhor?”. Acena que sim. “Nem isso conseguia fazer quando cá cheguei, e nem tinha muita vontade, para ser sincera... Andava completamente desanimada”. Maria Salgado tem 47 anos. Experimentou a acupunctura há pouco mais de dois. Como na maioria dos casos que se encontram pelas marquesas da sala de tratamentos, depois de passar pela medicina convencional sem grande sucesso, e com o agravamento dos problemas na cervical, acabou por ser aconselhada a experimentar uma da últimas saídas que se lhe avistavam para se ver livre da dor que já quase a impedia de sair à rua. “Como sempre, acabamos por ouvir alguém dizer que resultou e estamos tão desesperados que acabamos por pensar: ´E por que não?!`. Resultou e hoje confessa sem dificuldade que a sua experiência com as agulhas foi simplesmente “a concretização de um sonho, voltar a ter a minha vida de volta. Agora, faço o mesmo que fizeram comigo e recomendo isto a toda a gente”.
José Faro, sorri. “É o nosso maior objectivo, fazer com que saiam daqui melhor que quando entraram, é para isso que trabalhamos e damos formação. Mas deixe-me que lhe diga que ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, medicina tradicional chinesa não é só acupunctura, isso deve-se ao facto de utilizar agulhas, algo que obviamente captou mais as atenções principalmente quando falamos do início do século passado, por se afastar dos padrões clínicos convencionais da época. Muita gente pensa que as agulhas têm algum poder especial, mas claro que não. A recuperação de um doente que opte pela medicina tradicional chinesa começa na consulta, quando vemos e sentimos o paciente e as melhorias muitas vezes podem ser feitas através de correcções na alimentação por exemplo, por vezes basta isso para reequilibrar o corpo energeticamente! Depois há, claro, todos os outros tratamentos baseados num conhecimento com mais de 5 mil anos de prática confirmada, e recordo-lhe que a medicina ocidental tem menos de metade”.
À boleia de novos conhecimentos
Depois de ter frequentado um curso de psicologia em Coimbra, José Manuel Correia, partiu para Oriente. A acompanhá-lo, apenas uma mochila e um bilhete de ida, carregado de ilusões. Cursou psicologia médica em Manila, descobriu as artes marciais e as medicinas orientais no Japão, onde permaneceu durante dez anos e... regressou. Fundou então a Associação Portuguesa de Ninpo Shiatsu Aikijujutsu.
Na Marinha Grande desde 1990, o seu trabalho divide-se entre as artes marciais, a prática da terapia Shiatsu e o ensino “Sou um clínico geral deste tipo de medicina”, explica.
Apesar de reconhecer não ser esta, uma técnica infalível para a resolução de todas as maleitas, e reconhecendo que muitos casos “só podem ser tratados pela medicina convencional” releva o Shiatsu como um meio de cura “extraordinário”, ressalva. “Sim, desde as dores ciáticas, ao reumatismo, passando pela miopia e diabetes, entre muitas, muitas outras”.
Victor Manuel Pereira é um caso diferente. Terapeuta com consultório aberto em Lisboa, evoluiu na prática da acupunctura e do Shiatsu ao mesmo tempo e foi sendo conquistado pelos resultados. O seu interesse pelas medicinas alternativas orientais começa a desenvolver-se através das viagens que foi fazendo pela Europa e pelos Estados Unidos. “Senti a necessidade de aprofundamento do que ia descobrindo”, começa por dizer. Foi assim conduzido à realização de estudos no âmbito destas técnicas terapêuticas “Não só as medicinas de inspiração oriental têm uma visão global do corpo, como a medicina convencional também já a tem e vai buscar algumas técnicas e conceitos alternativos, porque a visão actual é cada vez mais integrativa”, atesta. Começa assim por defender um novo paradigma para uma também ´nova saúde`. “A qualidade deve prevalecer sempre sobre a quantidade. Amo todos os meus pacientes sabe?!”.
E em sua opinião nem é difícil saber exactamente qual é o melhor método para avaliar os pacientes que lhe preenchem as consultas que dá no Centro Português de Astrologia Quiron de Lisboa. "Os princípios do Shiatsu são muito úteis na maioria dos casos, mas se após um número razoável de 4 a 6 tratamentos um doente não apresentar melhoras, encaminho-o para outra medicina porque o importante mesmo é garantir que os doentes façam uma escolha informada e adequada à sua necessidade e que afinal, se recuperem”.
Meditação, Natureza e Paz
Com uma componente filosófica, psicológica e mística mais vincada encontram-se outras disciplinas curativas como o Reikki, uma antiga arte tibetana de canalização da energia vital pela imposição das mãos, redescoberta no Japão, em meados do século passado. Este conhecimento ancestral é um dos que mais tem despertado a atenção e a curiosidade dos muitos portugueses que já vão aderindo em massa às aulas disponibilizadas em health centres e ginásios de todo o país. "Sendo o Reiki uma técnica fácil e eficaz para a reposição do equilíbrio energético e da aquisição de auto-conhecimento, procuramos que ele chegue dentro dos parâmetros e qualidade imprescindível, a todos aqueles que querem aprendê-la", refere Carlos Marques, director da Escola Portuguesa de Reikki.
Razões para tão grande aceitação da terapêutica por parte do público a tal ponto de se tar tornado quase numa moda? “Sim... Mas é um facto que só vem confirmar um dado evidenciado, por exemplo, aquando da visita de Dalai Lama a Portugal. Por muito estranho que isso possa parecer, até à própria filosofia tibetana, o Budismo está na moda ente nós. O facto de estar na moda trás muita gente de facto, mas como em todos os fenómenos de massas, no final, apenas fica quem acredita, e quem de facto acaba por se identificar com a filosofia do Reikki”.
Labsong Dorge, ou Mente Realizada nas palavras do tibetano, é precisamente um budista português, que “desde muito pequeno", influenciado pelo pai e pelo tio perfilha dos valores tradicionais da cultura do Tibete, do Nepal e da Índia. De então para cá, perdeu-se e reencontrou-se mais vezes que as que desejaria, até por fim, calcorrear o caminho certo, direcção que o levaria à tranquilidade que diz agora conhecer. “Há mais de vinte anos que me vou aperfeiçoando, actualizando, crescendo dentro disto que descobri... Até que o destino me trouxe até aqui”. Nuno, o seu outro nome, mais português, faz terapia de som. Utilizando taças tibetanas, constituídas por uma liga metálica composta por ouro, prata, cobre e diversas outras composições metálicas, posiciona-as sobre os pontos vitais do corpo do paciente, fazendo-as vibrar. As ondas sonoras emanadas pela vibração do metal, dependendo da intensidade utilizada, actuam como se de uma massagem se tratasse, esta sem a utilização das mãos e a um nível intracelular. As velas compõem a ambiência, onde o laranja suaviza a rigidez trazida do mundo exterior que, por ali, parece afastado para não mais do que uma ténue certeza de regresso inevitável.
Durante a sessão, que de pode prolongar por mais de uma hora, vai recitando mantras tibetanos, que acompanham o ritual terapêutico. “O que faço é um tratamento e não uma cura, até porque essa reside dentro de cada um! Sim, creio ser esse o meu desígnio, fazer despertar a pessoa para a sua verdadeira finalidade neste mundo, ajudá-la, partilhando o que sei, o que fui aprendendo, de forma a que se liberte dos medos e frustrações que lhe roubam energia e a tornam mais atreita à doença”.
O melhor de dois mundos
Se na China, por exemplo, a medicina ocidental conquista espaço em muitos dos hospitais, que possibilitam aos utentes a possibilidade de optarem entre a medicina ocidental e a tradicional, do lado de cá do planeta, o caminho percorre-se, com ou sem ironia, ao contrário. Em Inglaterra algumas terapias alternativas já fazem hoje parte do sistema nacional de saúde e até em Portugal, apesar de ser esse ainda um cenário que não se coloca, a Medicina convencional aproxima-se cada vez mais das suas parceiras alternativas. Exemplo prático dessa realidade torna-se facilmente observável em algumas clínicas que as emparceiram no leque de serviços a prestar aos consumidores.
Começa assim a deixar de ser estranho encontrar num mesmo local, médicos, psiquiatras, naturopatas, homeopatas e todo o tipo de terapeutas de várias disciplinas naturais. O Instituto Azul, na cidade do Porto é um bom exemplo desta nova realidade, pois entrelaça diferentes mundos das ciências humanas que até costumam andar de costas voltadas. Tudo em nome da “credibilidade” como Ana Sofia Carvalho costuma dizer. Até porque, explica a gestora do espaço, “todas as terapêuticas são abordagens diferentes mas igualmente eficazes de tratar o ser humano nas suas várias dimensões”.
Mas pode esta aproximação entre conhecimentos aparentemente tão distintos ser benéfica para os pacientes? Duarte Almeida, especialista em endocrinologia e professor da Faculdade de Medicina do Porto não tem dúvidas. "Não julgo a validade das outras práticas nem vou encaminhar os meus pacientes para disciplinas que não conheço, mas se os ajudarem psicológica ou espiritualmente, isso só pode ser benéfico", assinala o clínico. No entanto, e apesar deste caso de sucesso, outros há que levam o presidente do conselho científico da Sociedade Portuguesa de Médicos Acupunctores a colocar algumas reticências nesta súbita implementação das terapias alternativas. “O Estado deve regulamentar convenientemente e com urgência o exercício destas terapêuticas, à semelhança do que se faz noutros países, por exemplo a Inglaterra, onde várias estão já integradas no Sistema”, alerta. A regulamentação, explica, apenas trará, benefícios. “Sim, mais transparência a um mercado inundado subitamente de terapeutas sem preparação, através da definição de uma formação mais exigente e condições adequadas dos locais em que muitas vezes são praticadas”.
Caixa:
De alternativas a massificadas
A curiosidade acerca das terapias chamadas alternativas acontece pela primeira vez na década de 60, num período marcado pelo movimento hippie, pelo naturalismo e pelo vegetarianismo. É então nas reminiscências dos movimentos sociais da década de 70 com a crescente industrialização que se passam a questionar os conceitos de saúde e o sistema médico predominante. Surgem os primeiros movimentos ecológicos, acompanhados de novas preocupações nutricionais que alimentam massivas tendências urbanas, novos males e novos remédios, pelo menos nas sociedades ocidentais. Oficialmente, as terapias alternativas, milenarmente utilizadas na China, no Japão, na Índia, no Tibete e em todo o Oriente, começam então a propagar-se pelo velho mundo.
Desde então, a tendência é global. Por todo o lado tem havido um aumento da popularidade das medicinas alternativas, do Japão aos Estados Unidos da América, passando pelo norte da Europa, até à Oceânia... E também por Portugal. Exceptuando o prematuro exemplo de Garcia de Orta que viveu cerca de 34 anos em Goa, e por lá estudou plantas e tratamentos medicinais indianos, deixando uma tão vasta quanto esquecida obra sobre a matéria, apenas na última década do século passado as mais variadas terapias e cuidados corporais ultrapassaram definitivamente as barreiras da compreensão e passaram a estar na moda entre os portugueses, como o revelam diversos estudos publicados nos últimos anos sobre a matéria.
Portugal procura cada vez mais Alternativas
No nosso país, a procura por terapias naturais intensificou-se de tal forma nos últimos anos, que o Governo se viu obrigado à elaboração de uma lei que enquadrasse a actividade e o exercício dos seus profissionais. A Lei nº 45/2003 reconheceu autonomia clínica a Acupunctura, Osteopatia, Homeopatia, Naturopatia, Fitoterapia e Quiropráxia, considerando ainda a sua base filosófica diferente da medicina convencional, todavia com processos específicos de diagnóstico e terapêuticas próprias.
Feito assim o enquadramento base de algumas destas terapêuticas, estabelecendo as que são reconhecidas, bem como os parâmetros da acreditação dos seus profissionais, muitas outras acabariam no entanto à margem da legalização.
Apesar da legalização destas actividades, ainda hoje, cinco anos depois, a discussão em torno das especificidades da lei impede o seu completo funcionamento. Os cursos não possuem equivalências a bacharelatos ou licenciaturas, e muitos dos profissionais da área subsistem ainda na clandestinidade.
Caixa:
Terapias
Cerca de trinta por cento da população europeia recorre ou já recorreu a pelo menos a uma terapêutica complementar ou alternativa. Em Portugal, o número de centros onde se podem encontrar transcende largamente as duas centenas de espaços, e é bastante acessível, apesar de um pouco dispendioso (os preços são muito variáveis e podem ir dos trezentos, aos três mil euros) entrar num curso de formação dedicado a qualquer uma delas.
Acupunctura
Ramo da medicina tradicional chinesa, que utiliza a introdução de agulhas muito finas, com a finalidade terapêutica de reequilibrar o fluxo energético do organismo ou para induzir um mero efeito analgésico. Também existe uma vertente que se pratica durante o parto, sendo uma prática cada vez mais procurada para melhorar a gravidez. Em Portugal terão já havido cerca de uma centena de bebés nascidos com a ajuda da medicina chinesa.
Aromaterapia
Uso de óleos essenciais e aromas de plantas como recurso terapêutico para vários males.
Cromoterapia
Ciência que utiliza as cores para estabelecer o equilíbrio e a harmonia do corpo, da mente e das emoções.
Feng Shui
Método milenar chinês para harmonização de ambientes.
Fitoterapia
Sistema terapêutico em que as plantas medicinais são utilizadas com a finalidade de restaurar as funções do corpo humano.
Terapia Floral
Remédios à base de flores, desenvolvidos pelo médico inglês Edward Bach, para tratar males da alma, como a ansiedade, o medo e a timidez.
Liang Gong
Técnica chinesa que utiliza movimentos lentos e contínuos onde cada um interfere com uma parte específica do corpo.
Naturopatia
Terapêutica baseada no principio da auto-regeneração corporal. Através da avaliação do estado global do organismo, é utilizada a prescrição de dietas, suplementos dietéticos, exercícios físicos e outras terapias, promovendo e estimulando as defesas naturais do corpo humano.
Osteopatia
Sistema de diagnóstico e tratamento, cuja utilização principal se situa nas maleitas do sistema músculo-esquelético. Utiliza principalmente métodos de tratamento à base de manipulações suaves, para restabelecer e manter as funções biomecânicas corporais.
Quiroprática
Método de tratamento que enfatiza as disfunções vertebrais como causa primordial para o aparecimento de várias patologias, utilizando métodos de tratamento idênticos aos da Osteopatia.
Tai Chi Chuan
Movimentos de luta em câmara lenta, simulando acções de animais e fenómenos da natureza. Aguça os sentidos e aumenta a concentração e a flexibilidade.
Notícias Magazine, Outubro de 2008
Notícias Magazine: O fascínio das árvores anãs
Uma tradição milenar que se tornou moda um pouco por toda a Europa e parece estar a ganhar cada vez mais adeptos em Portugal ou, a simples procura da tranquilidade das emoções, da conquista de um espaço pessoal comum, da relatividade de todas as coisas. A NM visitou a primeira e mais antiga escola de bonsai portuguesa.
Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
O ruído estridente e desencontrado do metal em alvoroço de corte transporta-nos ao imaginário cinematográfico do Eduardo Mãos de Tesoura. Todavia, por aqui, a personagem mais eloquente é bastante diversa, mitológica ainda assim, porventura pelas memórias que evoca em quase todos. O Mestre Myagi do Karaté Kid. Sim, é verdade, o êxito de bilheteira dos anos 80 é o responsável pela massificação da ideia do bonsai que até à época era relativamente desconhecido para a maioria dos que agora, o transformaram em elemento integrante da sua vida. “Acho que já está... Não está?!”. O olhar divide-se, as mãos seguram com gentileza de cristal as pequenas folhas de um verde vivo. Sobre a mesa, reminiscências caídas do crescimento evitado. “Parece que respira melhor e tudo”, ouve-se com orgulho.
Quem são?
Gramaticalmente pode até parecer incorrecta a utilização do quem, em vez do que. Para quem os conhece no entanto, a permuta faz todo o sentido. “Então, falta ainda aqui limpar estas folhas, espaçar estes ramos, colocar os arames, ainda cá vai ficar mais umas horas, ou então leva trabalho para casa”. Gargalhadas. São assim as aulas na Escola do Bonsai, em Sintra, a pioneira de entre algumas outras instituições que têm aberto as portas um pouco por todo o país nos últimos anos, em resposta ao interesse crescente de um público sobre o qual não existe ainda uma quantificação concreta.
“Hoje é dia de exame, vieram numa boa altura”, afiança Marco Rodrigues, professor e proprietário do Centro Bonsai de Sintra, onde funcionam as aulas e está instalado o Museu do Bonsai.
Para o trabalho estar concluído, todos os ramos da pequena árvore terão de estar visíveis, não se cruzarem entre si para que a luz consiga penetrar sem obstáculos, do topo à raiz do arbusto. “Trabalho para casa? Então de casa vim eu com ele!”, responde Pedro Fernandes, enquanto observa o seu ulmeiro. “Costumo trazê-lo, tratá-lo. Noutras ocasiões, cuidamos das árvores que estão aqui no hospital de bonsais (um serviço gratuito) e acabamos por praticar e aprender com árvores cá deixadas por pessoas como nós, que também têm esta paixão”. A sua mulher que o acompanha nas aulas desde que o marido lhe ofereceu um bonsai como prenda de aniversário, mantém-se atenta às forma que a tesoura vai deixando na “sua” árvore. “Acabamos por vir os dois juntos, é tempo de qualidade que passamos”. Pedro interrompe. “Sabe que queria comprar um bonsai da idade dela, mas seria muito caro. Acabei por lhe oferecer um mais baratinho que vai envelhecendo connosco”, humoriza. Ana Isabel sorri.
Na realidade o Bonsai é o resultado de um conjunto de técnicas esculturais de horticultura baseadas em princípios de arte e estética que se pode aplicar a diferentes tipos de árvore ou arbusto. O nome provém dos dois caracteres que se escrevem da mesma maneira em Chinês e Japonês, e que significam na génese, árvore em vaso, talvez o principio básico, para se poder ou não considerar um verdadeiro bonsai. Na prática e para além da definição tanto enciclopédica como milenar, resume-se por aqueles que o aceitaram na sua vida como “um hobby que se tornou prazer, que evoluiu para paixão”.
Eduardo Carvalho dedica-se àquela a que chama “a arte que mudou a sua vida” desde há seis anos. Do primeiro sobraram apenas raízes... na memória. “A minha mãe ofereceu-me um que morreu, o que é normal em quem tem um bonsai pela primeira vez e não possui experiência de como o deve cuidar. Depois, antes de ir para o segundo, li, informei-me e ainda hoje o tenho”. Mais uma tesourada, pequenos ramos e folhas espalhados sobre a mesa da sala iluminada no sol do Inverno que ainda se prolonga. Uns conversam entre sorrisos, outros lidam apenas consigo próprios e com a sua missão para hoje. A preparação para a Primavera. “Depois de ter vindo para a escola há uns dois anos, de aprender realmente a tratar de um bonsai, acabei por continuar por aqui, porque me faz bem. Trago a minha árvore, cuido dela e trato de mim também”, explica. Dedica-se agora a começar um bonsai a partir de apenas um tronco de carvalho. “De quase tudo se pode fazer um bonsai, é preciso apenas carinho e respeito por ele, e saber tratá-lo claro. Por onde se começa? Pelo princípio, a colocação no vaso”.
Se André Rosa, um jovem na casa dos trinta anos que quase apenas se ouve respirar, pelo estremecimento que provoca nas pequenas folhas que vai cuidadosamente retirando, faz deste “um vício que lhe leva cada vez mais tempo, atenção e espaço na casa porque já tenho para aí uns dez”, Marcelo Neves, já reformado da pesca, descobriu-os há apenas alguns anos mas tomou-lhes o gosto. Eles tomaram-lhe o quintal, o pátio do segundo andar e alguns outros recantos da casa. A esposa parece não gostar muito da ideia. “Não, nada disso, ela é é envergonhada!”, clama com um sorriso que não se dissipa facilmente.
Quanto aos bonsai... “Não podia ter encontrado nada melhor para mim. Sou meticuloso, tenho gosto nestas coisas”. Marcelo tem assim um verdadeiro viveiro de bonsai na Ericeira, de costas para o mar, protegidos do vento e das condições do clima. Construiu-lhes um sistema de rega automática, tem todos os instrumentos necessários, dedica-lhes largas horas do seu dia, e até lhes oferece o melhor do seu feitio “difícil”. “São muito sensíveis”, segreda enquanto segura com as mãos de quem trabalhou muito, um ramo que parece sem destino, assim a olho nu. “Parece mas não é, vai ser uma laranjeira bonsai...daqui a uns tempos”, professa.
Existem bonsai de quase todas as espécies de árvore. Da nespereira à roseira, passando por videiras, figueiras, oliveiras, macieiras... Há de tudo, ou quase tudo no pequeno grande mundo do bonsai. “O ideal é que as árvores tenham folhas pequenas para não ficarem desproporcionadas nas miniaturas, embora existam técnicas para que se mantenham todas elas esteticamente uniformes, a sua principal qualidade”, explica Marco.
A turma de vinte alunos, homens e mulheres, mais novos ou mais velhos, mais pequenos ou mais altos, com vidas mais ou menos diferentes, ouve-o, sem tirar os olhos do bonsai, “ou do que ele poderá vir a ser, algo que nos está sempre na cabeça”, acrescenta.
Lições de vida
As tesouras repousam agora na bancada de madeira, disfarçadas na folhagem, por entre emaranhados de turfa e musgo que perfuma o ar. No ambiente, apenas os sons que se alastram por todo o espaço. Ruídos da Natureza embutidos em notas que soam a oriente extremo, retiram o lugar da estrada que se encaminha para Sintra e colocam-no algures para lá da fronteira do perceptível. Sente-se a calma, pressente-se o tempo no seu real estado. “Os sons aqui são importantes, trabalhamos com isso também, para transmitir boas sensações aos nossos visitantes”.
Das largas centenas de minúsculas árvores dispostas pelos bosques recriados por aqui, as placas dos preços sobressaem, pouco é certo. “Normalmente dentro da mesma espécie e qualidade estética, quanto maior é a planta mais cara é. Porque demora mais tempo a ´construir` um Bonsai maior, mas se a qualidade estética for diferente, poderemos ter um mais pequeno e mais novo e no entanto mais caro”. Há assim formas, estéticas e preços para todos os gostos, vontades e bolsas, claro. Por aqui, desde os 50 ao 2000 mil euros. Noutros mercados, até bastante mais. “Depende disso mesmo, da beleza do bonsai”, reitera Marco Rodrigues, que desde muito novo descobriu o fascínio, primeiro pela cultura, depois por esta forma de a exteriorizar. “Tive a felicidade de estudar na Coreia do Sul, onde tomei contacto com a realidade do Oriente. Há mais de 25 anos que temos este centro de jardinagem que acabámos por adaptar e especializar no bonsai. Fomos os primeiros a fazê-lo no nosso país, e também a abrir uma escola para as pessoas aprenderem a lidar convenientemente com as suas árvores”, assinala.
Quanto à moda que, depois de ter alastrado pela Europa, parece ter chegado a Portugal, é claro. “Notámos um boom aquando do Karate Kid, depois estabilizou. Sempre tivemos muitos clientes espanhóis e holandeses por exemplo. Agora nos últimos tempos têm aparecido cada vez mais portugueses, até tivemos de duplicar as aulas, aumentar o espaço que já não chega para todos. Razões para isso? Talvez pelo stress que se sente hoje em dia, pela luta diária, pela correria urbana... Isto acalma-nos, traz-nos de volta à terra, devolve-nos a natureza”.
Caixa:
Curiosidades:
Os Bonsai surgiram na China há mais de 2000 anos. Com a expansão do império a arte alastrou-se ao Japão e a outros pontos no extremo oriente.
Por ser mais pequeno, em termos de tempo de vida, o bonsai tem uma longevidade pelo menos semelhante às suas congéneres da mesma espécie, podendo atingir mesmo as largas centenas de anos.
O valor de um Bonsai depende de vários factores, como a origem, a qualidade estética, a espécie e a idade. Normalmente, quanto mais velho é, mais valor atinge no mercado. Existem bonsai centenários que podem custar facilmente mais de 10 mil euros.
Notícias Magazine, Agosto 2008
Texto
Pedro Cativelos
Fotografia
Patrícia de Melo Moreira
O ruído estridente e desencontrado do metal em alvoroço de corte transporta-nos ao imaginário cinematográfico do Eduardo Mãos de Tesoura. Todavia, por aqui, a personagem mais eloquente é bastante diversa, mitológica ainda assim, porventura pelas memórias que evoca em quase todos. O Mestre Myagi do Karaté Kid. Sim, é verdade, o êxito de bilheteira dos anos 80 é o responsável pela massificação da ideia do bonsai que até à época era relativamente desconhecido para a maioria dos que agora, o transformaram em elemento integrante da sua vida. “Acho que já está... Não está?!”. O olhar divide-se, as mãos seguram com gentileza de cristal as pequenas folhas de um verde vivo. Sobre a mesa, reminiscências caídas do crescimento evitado. “Parece que respira melhor e tudo”, ouve-se com orgulho.
Quem são?
Gramaticalmente pode até parecer incorrecta a utilização do quem, em vez do que. Para quem os conhece no entanto, a permuta faz todo o sentido. “Então, falta ainda aqui limpar estas folhas, espaçar estes ramos, colocar os arames, ainda cá vai ficar mais umas horas, ou então leva trabalho para casa”. Gargalhadas. São assim as aulas na Escola do Bonsai, em Sintra, a pioneira de entre algumas outras instituições que têm aberto as portas um pouco por todo o país nos últimos anos, em resposta ao interesse crescente de um público sobre o qual não existe ainda uma quantificação concreta.
“Hoje é dia de exame, vieram numa boa altura”, afiança Marco Rodrigues, professor e proprietário do Centro Bonsai de Sintra, onde funcionam as aulas e está instalado o Museu do Bonsai.
Para o trabalho estar concluído, todos os ramos da pequena árvore terão de estar visíveis, não se cruzarem entre si para que a luz consiga penetrar sem obstáculos, do topo à raiz do arbusto. “Trabalho para casa? Então de casa vim eu com ele!”, responde Pedro Fernandes, enquanto observa o seu ulmeiro. “Costumo trazê-lo, tratá-lo. Noutras ocasiões, cuidamos das árvores que estão aqui no hospital de bonsais (um serviço gratuito) e acabamos por praticar e aprender com árvores cá deixadas por pessoas como nós, que também têm esta paixão”. A sua mulher que o acompanha nas aulas desde que o marido lhe ofereceu um bonsai como prenda de aniversário, mantém-se atenta às forma que a tesoura vai deixando na “sua” árvore. “Acabamos por vir os dois juntos, é tempo de qualidade que passamos”. Pedro interrompe. “Sabe que queria comprar um bonsai da idade dela, mas seria muito caro. Acabei por lhe oferecer um mais baratinho que vai envelhecendo connosco”, humoriza. Ana Isabel sorri.
Na realidade o Bonsai é o resultado de um conjunto de técnicas esculturais de horticultura baseadas em princípios de arte e estética que se pode aplicar a diferentes tipos de árvore ou arbusto. O nome provém dos dois caracteres que se escrevem da mesma maneira em Chinês e Japonês, e que significam na génese, árvore em vaso, talvez o principio básico, para se poder ou não considerar um verdadeiro bonsai. Na prática e para além da definição tanto enciclopédica como milenar, resume-se por aqueles que o aceitaram na sua vida como “um hobby que se tornou prazer, que evoluiu para paixão”.
Eduardo Carvalho dedica-se àquela a que chama “a arte que mudou a sua vida” desde há seis anos. Do primeiro sobraram apenas raízes... na memória. “A minha mãe ofereceu-me um que morreu, o que é normal em quem tem um bonsai pela primeira vez e não possui experiência de como o deve cuidar. Depois, antes de ir para o segundo, li, informei-me e ainda hoje o tenho”. Mais uma tesourada, pequenos ramos e folhas espalhados sobre a mesa da sala iluminada no sol do Inverno que ainda se prolonga. Uns conversam entre sorrisos, outros lidam apenas consigo próprios e com a sua missão para hoje. A preparação para a Primavera. “Depois de ter vindo para a escola há uns dois anos, de aprender realmente a tratar de um bonsai, acabei por continuar por aqui, porque me faz bem. Trago a minha árvore, cuido dela e trato de mim também”, explica. Dedica-se agora a começar um bonsai a partir de apenas um tronco de carvalho. “De quase tudo se pode fazer um bonsai, é preciso apenas carinho e respeito por ele, e saber tratá-lo claro. Por onde se começa? Pelo princípio, a colocação no vaso”.
Se André Rosa, um jovem na casa dos trinta anos que quase apenas se ouve respirar, pelo estremecimento que provoca nas pequenas folhas que vai cuidadosamente retirando, faz deste “um vício que lhe leva cada vez mais tempo, atenção e espaço na casa porque já tenho para aí uns dez”, Marcelo Neves, já reformado da pesca, descobriu-os há apenas alguns anos mas tomou-lhes o gosto. Eles tomaram-lhe o quintal, o pátio do segundo andar e alguns outros recantos da casa. A esposa parece não gostar muito da ideia. “Não, nada disso, ela é é envergonhada!”, clama com um sorriso que não se dissipa facilmente.
Quanto aos bonsai... “Não podia ter encontrado nada melhor para mim. Sou meticuloso, tenho gosto nestas coisas”. Marcelo tem assim um verdadeiro viveiro de bonsai na Ericeira, de costas para o mar, protegidos do vento e das condições do clima. Construiu-lhes um sistema de rega automática, tem todos os instrumentos necessários, dedica-lhes largas horas do seu dia, e até lhes oferece o melhor do seu feitio “difícil”. “São muito sensíveis”, segreda enquanto segura com as mãos de quem trabalhou muito, um ramo que parece sem destino, assim a olho nu. “Parece mas não é, vai ser uma laranjeira bonsai...daqui a uns tempos”, professa.
Existem bonsai de quase todas as espécies de árvore. Da nespereira à roseira, passando por videiras, figueiras, oliveiras, macieiras... Há de tudo, ou quase tudo no pequeno grande mundo do bonsai. “O ideal é que as árvores tenham folhas pequenas para não ficarem desproporcionadas nas miniaturas, embora existam técnicas para que se mantenham todas elas esteticamente uniformes, a sua principal qualidade”, explica Marco.
A turma de vinte alunos, homens e mulheres, mais novos ou mais velhos, mais pequenos ou mais altos, com vidas mais ou menos diferentes, ouve-o, sem tirar os olhos do bonsai, “ou do que ele poderá vir a ser, algo que nos está sempre na cabeça”, acrescenta.
Lições de vida
As tesouras repousam agora na bancada de madeira, disfarçadas na folhagem, por entre emaranhados de turfa e musgo que perfuma o ar. No ambiente, apenas os sons que se alastram por todo o espaço. Ruídos da Natureza embutidos em notas que soam a oriente extremo, retiram o lugar da estrada que se encaminha para Sintra e colocam-no algures para lá da fronteira do perceptível. Sente-se a calma, pressente-se o tempo no seu real estado. “Os sons aqui são importantes, trabalhamos com isso também, para transmitir boas sensações aos nossos visitantes”.
Das largas centenas de minúsculas árvores dispostas pelos bosques recriados por aqui, as placas dos preços sobressaem, pouco é certo. “Normalmente dentro da mesma espécie e qualidade estética, quanto maior é a planta mais cara é. Porque demora mais tempo a ´construir` um Bonsai maior, mas se a qualidade estética for diferente, poderemos ter um mais pequeno e mais novo e no entanto mais caro”. Há assim formas, estéticas e preços para todos os gostos, vontades e bolsas, claro. Por aqui, desde os 50 ao 2000 mil euros. Noutros mercados, até bastante mais. “Depende disso mesmo, da beleza do bonsai”, reitera Marco Rodrigues, que desde muito novo descobriu o fascínio, primeiro pela cultura, depois por esta forma de a exteriorizar. “Tive a felicidade de estudar na Coreia do Sul, onde tomei contacto com a realidade do Oriente. Há mais de 25 anos que temos este centro de jardinagem que acabámos por adaptar e especializar no bonsai. Fomos os primeiros a fazê-lo no nosso país, e também a abrir uma escola para as pessoas aprenderem a lidar convenientemente com as suas árvores”, assinala.
Quanto à moda que, depois de ter alastrado pela Europa, parece ter chegado a Portugal, é claro. “Notámos um boom aquando do Karate Kid, depois estabilizou. Sempre tivemos muitos clientes espanhóis e holandeses por exemplo. Agora nos últimos tempos têm aparecido cada vez mais portugueses, até tivemos de duplicar as aulas, aumentar o espaço que já não chega para todos. Razões para isso? Talvez pelo stress que se sente hoje em dia, pela luta diária, pela correria urbana... Isto acalma-nos, traz-nos de volta à terra, devolve-nos a natureza”.
Caixa:
Curiosidades:
Os Bonsai surgiram na China há mais de 2000 anos. Com a expansão do império a arte alastrou-se ao Japão e a outros pontos no extremo oriente.
Por ser mais pequeno, em termos de tempo de vida, o bonsai tem uma longevidade pelo menos semelhante às suas congéneres da mesma espécie, podendo atingir mesmo as largas centenas de anos.
O valor de um Bonsai depende de vários factores, como a origem, a qualidade estética, a espécie e a idade. Normalmente, quanto mais velho é, mais valor atinge no mercado. Existem bonsai centenários que podem custar facilmente mais de 10 mil euros.
Notícias Magazine, Agosto 2008
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