setembro 28, 2006

Homem, Jesus, Deus e Igreja



Os Segredos de um Código Da Vinci que nos mostra Jesus “como nunca havíamos imaginado”


Por
Pedro Cativelos


Dan Burstein é um jornalista premiado e autor de vários best-sellers sobre assuntos que atravessam o oriente tecnológico, focando os mistérios e as complexidades do futuro. “Segredos do Código” é assim o seu primeiro livro cuja temática recai sobre a relação entre os mistérios e as lendas, por oposição à realidade de um passado histórico, por isso, real.

O Código da Vinci, de Dan Brown, despertou um amplo interesse pelas pesquisas que serviram de fonte ao seu autor. Em todo o mundo, os leitores querem saber o que são factos e o que é ficção, e isso tem sido matéria-prima de muitas controvérsias. “O Código Da Vinci, teve o mérito de nos mostrar Jesus como nunca o havíamos imaginado! Um revolucionário, como Fidel, Lenine, Che Guevara, todos casados, todos com família… São assim levantadas uma série de hipóteses. Quem seria então, porque não teria sido casado, até porque era um profeta, e na altura, eram quase todos casados, teve filhos, como reagiu a Igreja, no decorrer da história dos séculos, a estas hipóteses?”

Existem já cerca de 24 livros dedicados à teorização da verdade em torno da verdade sobre a existência de Jesus, publicados na sequência do best-seller de Dan Brown.
Para o escritor norte-americano, a sua obra “tem a diferença, em relação a todas as outras que se debruçaram sobre o problema colocado pelo Código Da Vinci, de exibir todos os pontos de vista sobre o tema. Desde os teólogos da Igreja, aos cientistas, aos historiadores, às feministas, e todos os mais credíveis peritos estudiosos da matéria. No fundo reúno as teorias existentes e estabeleço uma conclusão com base nos cerca de mil livros que li sobre o assunto, e no que agora se sabe ser absoluta e cientificamente a verdade”.

Em Segredos do Código, Burstein tenta distinguir o que são realmente factos, o que se construiu a partir de especulações baseadas em dados relevantes e o que é pura ficção romanceada. “Depois de investigar cheguei à conclusão de que o livro de Brown é em grande parte folclore! A outra parte é… romance!”. No entanto o investigador norte-americano identifica uma das virtudes do Código Da Vinci, “que como obra que todos leram, em casa, nos transportes, na praia, proporcionou à opinião pública dos quatro cantos do mundo, a possibilidade de partilhar uma visão básica da vida de Cristo. Isto acarreta que muitos pensamentos, e avaliações que nunca foram feitas a esta escala global, por tanta gente dos mais variados estratos sociais, nos sejam agora familiares. No fundo, abriu-nos os olhos para muito que nunca víramos ou sequer pensáramos”, explica. Ainda na apreciação à obra de Dan Brown, desdramatiza o facto do conteúdo conter incorrecções históricas, preferindo relevar “ as reflexões que nos impõe, quanto ao papel da mulher na Igreja, da espiritualidade na nossa vida e do que realmente Jesus representa para nós. A este nível considero o Código Da Vinci uma obra muito importante, não em termos de precisão factual.”

Os factos e as imprecisões do Código

A primeira e porventura maior falsidade apontada por Burstein ao Código Da Vinci tem concretiza-se precisamente no nome. “Leonardo não pintou o que se quis fazer parecer! Era um homem brilhante, multidisciplinar, que se interessava por todo o tipo de conhecimentos. Questionava o papel da mulher em toda a estrutura social e religiosa, desenvolvia a leitura de livros heréticos e construiu ideias que explanava em alguns dos seus quadros, e que nada tinham a ver com a época, mas também com algum tipo de verdade relacionada com a vida de Jesus”.

E esta certeza apresentada pelo autor americano, baseia-se na “completa fraude intencional que é o Priorado do Sião”, sociedade secreta de laivos maçónicos de que teriam feito parte, ao longo do tempos, o próprio Da Vinci, mas também Newton e outros nomes grandes do pensamento europeu. A esta agremiação incumbiria perpetuar o grande segredo da história da humanidade, o de que Jesus teria sido casado com Maria Madalena, que ela seria mesmo a principal dos seus discípulos, e que dessa união havia nascido uma filha, Sara, que ainda pequena viajaria para o ostracismo do sul de França na companhia da sua mãe, Maria, mãe da filha de um Cristo assassinado.

Há também a misteriosa e súbita ascensão da ordem dos templários, explicada no livro de Dan Brown como resultante da descoberta de provas relacionadas com este acontecimento. No entanto Burstein não acredita nesta versão apresentada por Brown.

“Creio que o enriquecimento dos templários se deveu sobretudo aos conhecimentos trazidos de uma região que estava mais desenvolvida que os antigos povos europeus, possuindo alguns saberes e práticas relacionadas com alquimia e misticismo, apreciados na Europa daquela época e sobretudo pela Igreja. Acredito que os templários negociaram com Roma, tornando-se sem saberem na primeira grande empresa da história humana”.

Jesus era um revolucionário
Numa noite de insónias. Dedicou-se à leitura de um dos livros mais vendidos de sempre, sem qualquer intenção que não a de perceber o porquê de “tanto alarido em redor desta obra. Percebi porquê na manhã seguinte quando o terminei!”. Daí, até ao começo da sua investigação pessoal, obedecendo à mera curiosidade, distaram horas, até à conclusão de uma obra, vários meses. “Pegando nos livros, nas fontes referidas por Dan Brown, fiz a minha própria investigação, mas houve pensamentos que nunca foram alterados. Sempre tive a ideia, reforçada através da pesquisa que ia desenvolvendo, de que Jesus era um idealista, em verdadeiro revolucionário, descontente pela ocupação romana do seu território, e ainda mais pela permissividade corrupta dos líderes judeus a esta situação. Pelo seu carisma e poder de liderança natural, Jesus da Galileia assustava os líderes políticos da sua região, o que acabou por ditar a sua morte”.

Mas a imensa distância que se atravessa entre esta interpretação, e o significado que ao longo dos séculos foi atribuído à vida, e ao seu legado, é algo que segundo Burstein se explica pela “sede de poder que é natural da condição humana, e que em determinados períodos se agudizou atingindo patamares completamente desumanos.

A Igreja é a maior e mais lucrativa instituição construída na história, e foi, é e será dirigida por homens, com tudo o que isso implica de virtudes e defeito. Os escritos seleccionados para a Bíblia, a base dogmática desta gigantesca organização, e estou ciente do que a palavra seleccionados significa neste contexto, foram-no de acordo com uma realidade que queria ser primeiramente construída utilizando por base a vida de um grande Homem, depois composta com influências culturais e místicas gregas, hebraicas, persas, romanas, e tantas outras. Temos de reconsiderar tudo o que tínhamos como absolutamente verdadeiro, e isso só pode ser bom!”.

Segredos do Código
Dan Burstein
DIFEL

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