junho 18, 2015

África Today (Angola): Fernando Pinto

 “Angola é um mercado fundamental para a TAP”

Chamem-lhe o piloto que recolocou a TAP a voar, ou o engenheiro da mecânica estrutural de uma empresa com história passada, e futuro agora, numa companhia aérea que ganhou asas, e é bandeira de um conceito que traduz segurança, fiabilidade, e crescimento em todo o mercado Lusófono.

Fevereiro de 2014
Texto: Pedro Cativelos
Fotografia: TAP

Fernando Pinto, e a sua equipa, chegaram à TAP em Outubro de 2000 com o objectivo de preparar a empresa para a privatização. Hoje, 14 anos depois, como vê a empresa que encontrou, em comparação com a que é hoje, agora sim, na antecâmara de um processo de privatização?
A empresa é agora completamente diferente. A TAP estava numa fase difícil porque estava previsto ser privatizada, o que não aconteceu. Vinha de perdas de dois anos consecutivos, acima do equivalente a 100 milhões de euros. Não tinha tesouraria para mais de três meses, e nós precisávamos provar à comunidade europeia que esta era uma empresa viável. Isso foi feito, mostrando um plano que traria a empresa de volta ao equilíbrio em três anos. Hoje a TAP é uma empresa estável, cresceu duas vezes e meia relativamente ao que era em 2000, agregou uma empresa chamada Portugália, tem novos aviões, tem ligações importantíssimas entre a Europa, a América do Sul e África, é das maiores empresas europeias a voar para o Brasil e para a África, está numa posição de equilíbrio nos últimos oito anos e só não teve resultado positivo num ano, que foi 2008. É uma empresa com uma excelente qualidade de serviços e portanto, esta é outra TAP!

Qual foi o primeiro desafio que se impôs, a si, e à empresa, quando a encontrou, em 2000?
Foi essa conjugação de factores, até criar uma estratégia e provar que a empresa seria viável.

Principais diferenças, entre a Varig, que deixou, e a TAP que veio encontrar?
A Varig que eu deixei era uma empresa que já tinha conseguido nos últimos quatro anos fazer uma reestruturação profunda, era uma empresa que tinha bons indicadores financeiros, entre os mais altos das empresas no mundo, estava na faixa dos 17% de margem, tinha capacidade de pagar os seus compromissos, era uma empresa que precisava de capital, mas uma empresa motivada, uma empresa com condições. A TAP, em 2000, foi o desafio que eu já referi, era quase como começar tudo de novo, todo o trabalho que eu havia feito em quatro anos na Varig, tive que fazer tudo novamente aqui.

E qual, o desafio, em termos estratégicos, para os próximos anos, sendo que o destino da companhia, passa, é certo por uma privatização, na sua opinião isso implicará uma mudança da TAP, como a conhecemos?
O grande desafio é esse, continuar o processo de crescimento! Nós crescemos em média, nestes 13 anos, algo como 7% ou 8 % em média ao ano, agora é muito importante a privatização, justamente para ter uma maior capitalização e poder continuar um crescimento forte, começar a voar com novos equipamentos, como por exemplo os 12 Airbus A350, que já estão encomendados, que permitirão uma nova etapa na vida da empresa pelo alcance, pela possibilidade de novas rotas e pela eficiência que trazem, ou seja, competitividade e eficiência. Mas, enfim até lá continuamos a crescer, já este ano teremos reforço da frota e novos destinos. Depois daremos um novo salto em 2017, com os A350. Mas principalmente será a privatização que permitirá uma mudança na TAP como a conhecemos, criando uma empresa ainda mais ágil e eficiente.

Enquanto gestor ligado a esta área, como observa um sector em constante mudança e evolução, de uma forma geral?
Trabalhar na área do transporte aéreo é um desafio para todos, é realmente um sector em constante evolução, constante mudança, sujeito a muitos fatores externos, o preço do combustível é um deles, a oferta, as diferentes propostas, o movimento das low-cost, são desafios que as empresas têm hoje que enfrentar, mas esse é também o charme desse tipo de negócio.

Em termos de balanço, pode fazer um resumo dos momentos mais marcantes enquanto gestor da TAP?
Diria que mais marcante foi justamente esse início, conseguir dar essa reviravolta nas dificuldades que a empresa tinha, começar a ver a empresa no caminho certo no crescimento, o facto de ter um projecto que atingiu o breakeven em três anos, e depois todo esse fantástico crescimento que a empresa teve até atingir a liderança da ligação da Europa com a América do Sul. Hoje nós somos a maior empresa europeia a ligar a Europa e a América do Sul. Toda a vez que nós temos um reconhecimento dos nossos passageiros, isso é algo que nos toca bastante. Na TAP temos um processo de reconhecimento directo do passageiro, do nosso cliente, ao trabalhador da TAP (chamamos de Programa Simpatia) e nós vemos situações muito bonitas que acontecem, e isso sempre é algo muito marcante para nós. Fazemos encontros de tempos a tempos, com os nossos trabalhadores, com esses que receberam o reconhecimento dos clientes, e são sempre cerimónias com momentos que nos tocam profundamente.

A Segurança é porventura, uma das grandes marcas da TAP, para todos os portugueses, mesmo para aqueles que não viajam de avião… Calculo que esta seja uma preocupação constante na empresa. Como se construiu, e ampliou essa imagem, em sua opinião, e o que se faz ainda hoje, para a manter?
A segurança é uma das grandes marcas da TAP, eu diria que isso foi umas das coisas que me incentivou a vir para cá, porque a empresa já tinha um histórico extremamente importante. Eu diria que isso é algo que está no ADN da TAP, está nos genes da TAP, nasceu com a TAP, é uma empresa focada nisso desde o início, é praticamente um dogma da empresa operar em segurança. Isso se vê não só nos pilotos, que são obviamente a base de isso tudo, são eles que fazem as decisões de saída do avião, por exemplo, mas isso está também na manutenção e na área de handling, como obviamente por toda a empresa. Isso faz parte do espírito da empresa. Por acaso até tenho ali no meu computador uma peça de um dominó, é uma lembrança de que eu sou uma peça importante também no processo de segurança da empresa, e decisões minhas também contam para a segurança, decisões de todos os que estão aqui dentro, eu faço também com que as pessoas entendam isso. Eu preocupo-me e é assim que tem de ser numa empresa aérea. Como se construiu, isso é histórico, mas obviamente tem todo um processo de formação, supervisão. Os pilotos são treinados periodicamente, temos simuladores próprios, o que é um investimento enorme que a empresa fez, mas são fundamentais para todo esse processo de treino, de avaliação, de verificação e de formação.

Sendo que a África Today, é uma revista Angolana, em termos de mercado angolano, existe alguma novidade, em termos de rotas ou periodicidade das mesmas agendada para os próximos meses?
Essa foi umas das rotas que mais cresceu ultimamente, passámos de ter apenas duas frequências por semana, para termos hoje 10 frequências por semana. É uma rota fundamental para a TAP, extremamente importante, e obviamente que a acompanhamos de perto para ver o que é possível fazer, em termos melhoria de horário, em termos até de crescimento futuro.

Há alguns anos, chegou a associar-se o seu nome à TAAG… Nunca passaram de rumores?
Sempre procurámos dar muito apoio à TAAG, porque é uma empresa irmã, de Angola, e nós sabemos que é extremamente importante que ela seja uma empresa forte, sempre procurámos dar o apoio que fosse possível e necessário. Mas nunca eu, pessoalmente, tive qualquer relação, tive unicamente através da TAP.”

Que peso, tem o mercado Lusófono, (Angola, Moçambique, Cabo-Verde, S. Tomé, Brasil, Timor e Macau) em termos de passageiros, e rotas, para a TAP?
Angola e o mercado lusófono, em geral, têm um peso importantíssimo para a TAP. Temos vindo a assistir a um crescimento sustentado no que diz respeito a números de passageiros e são mercados onde vamos com toda a certeza continuar a procurar oportunidades de investimento.

Disse recentemente, em relação ao processo de privatização que a TAP “era um ganho para Portugal”, e incomparável com as outras empresas recentemente privatizadas… Pode concretizar?
 A TAP tem uma importância global para Portugal, primeiro é uma das maiores empresas exportadoras, está hoje entre as três maiores empresas exportadoras de Portugal, e exportar é o que Portugal mais precisa nos dias de hoje. Depois é uma das grandes geradoras de emprego e durante esses três últimos anos, que foram dos anos de maior crise em Portugal, a TAP cresceu ainda assim todos os anos e aumentou o seu número de trabalhadores, sempre ganhando em eficiência, sempre aumentando a sua eficiência. O nosso crescimento pediu mais trabalhadores e trabalhadores extremamente bem preparados, formados, pilotos, pessoal de cabine, mecânicos, enfim, de várias outras categorias aqui dentro da empresa. Mas voltando atrás, ao facto de sermos grandes exportadores (75% das vendas que fazemos são fora do país), além das divisas que obviamente trazemos para Portugal, o maior benefício é justamente os turistas que trazemos e as despesas que eles fazem dentro de Portugal. Somos um cartão de visita, mostrando o que é o Portugal moderno, o que é uma empresa moderna de Portugal, além de fazermos o elo de ligação de negócios de Portugal com o mundo. Portanto é tudo isso que a TAP é, obviamente que é uma empresa que tem que ser bem privatizada, eu tenho a certeza absoluta de que o governo tem plena consciência disso”.

O que mais irá recordar, desta experiência de tantos anos na TAP?
São tempos muito bons de contínuo e constante desafio, eu sempre gostei de desafios, então eu vou recordar exactamente isso, cada dia temos novos desafios, é uma empresa vibrante, que tem um ambiente de trabalho muito bom, é uma empresa que segue muito de perto o objectivo de ser uma das melhores empresas para trabalhar, uma das melhores empresas para viajar, e para investir também. Acho que estamos nesse caminho e a conseguir realizar um pouco disso, ser parte dessa realização é muito importante para mim.

No último dia de trabalho enquanto CEO da TAP, o que lhe irá passar pela cabeça, já imaginou esse cenário, e qual será a sua reacção perante ele?
Eu quero sentir-me muito bem por ter cumprido uma missão. Eu tenho sempre dito que considero que vou ter cumprido essa missão se tiver deixado a empresa privatizada. Obviamente, bem privatizada. Então, eu espero sair daqui e dizer que cumpri uma missão, estou tranquilo e vou observar a TAP a continuar a crescer em velocidade maior ainda do que quando eu estive aqui.

Numa palavra apenas, como resumiria este período que passou a liderar, e a ajudar a consolidar uma das empresas mais queridas pelos portugueses?
Um desafio... e de constantes desafios!





Raio X
Qual o seu livro favorito:
Steve Jobs. O que fazer e o que não fazer numa empresa, as duas coisas que estão muito claras neste livro. Recomendo muito para quem tem uma mentalidade empreendedora. Ver que a partir de alguns princípios e ideias é possível fazer uma enorme empresa.

Maior perigo na vida de um CEO?
Tempo de rotação. Por causa dos desafios, os desafios são tão grandes que muitas vezes a coisa não dá certo, o primeiro a ser trocado é o CEO e então a longevidade não é grande. Mas o grande perigo, para usar essa palavra, eu diria que é o CEO ter excesso de dedicação ao seu dia a dia, e esquecer da parte familiar e pessoal, e não ter hobbies. Aí ele passa a ser um mau CEO, porque ele não tem a cabeça fria para tomar as decisões corretas que precisa de tomar.

Citação…Tem alguma que lhe diga algo de especial?
Eu não sou um homem de citações.

Palavra preferida:
Perseverança.

Samba, ou Fado?
“Gosto dos Beatles”.


Sardinha assada, ou churrasco?
Aí tem uma história. Eu realmente adoro churrasco, sempre gostei de churrasco e eu vim para cá e pensei que fosse sentir falta do churrasco, mas não. Vivo comendo peixe aqui, agora, só não entendi como engordei 14 kg desde que vim para cá. Dizem que o peixe é menos calórico….

Destino de eleição:
A minha casa no final do dia.

Gadget que não dispense:
O telemóvel.

Sendo que já foi piloto, algum dos seus hobby´s passa por aí?
Sim, mas tenho vários. Gosto de voar de planador, aviões, ultra leves... Mas também de fotografia, música, toco um pouquinho de piano, bicicleta, ténis, exporte, ski, ler, viajar, passear. Tudo isso faz parte das minhas preferências. E ler, que eu tenho pouco tempo para isso, infelizmente!

Já pensou no que vai fazer, quando se reformar?
Terei tempo para tudo isto!


BIO
Fernando Pinto
Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do  Rio de Janeiro. Como projecto de formatura apresentou um protótipo do primeiro hovercraft feito no Brasil, com tecnologia absorvida da Inglaterra, após  diversos estágios em fábricas inglesas da Ilha de  Wight.
Presidente Executivo/ CEO.(Na TAP desde Outubro 2000)
Presidente da AEA – Associação de Companhias Aéreas  Europeias em 2005.
Presidente da Varig entre 1996 e 2000.
Trabalhou na Airbus enquanto chefe de divisão de Mecânica, antes de ter passado como presidente pela Rio Sul.
O início da sua carreira, é marcado pela fundação da primeira fábrica de aeronaves leves do Brasil, ainda hoje, a sua grande paixão em termos de aviação.

As rotinas de um CEO
Pedia-lhe que me falasse um pouco do seu dia-a-dia enquanto CEO. Sei que viaja muito, e que tem uma agenda sempre preenchida de reuniões. Fale-me um pouco sobre isso, como é a rotina diária de um CEO de uma das maiores empresas portuguesas?
As viagens são parte do dia-a-dia, numa empresa aérea e temos que estar sempre em contacto com os diversos mercados, tenho reuniões das entidades representativas, por exemplo. Nós temos as reuniões da AEA (Associação Europeia das Companhias Aéreas), da IATA, o órgão internacional de representação das companhias aéreas, e a própria Star Alliance, onde a TAP está integrada e que nos obriga, de certa forma, a estar sempre em contacto com cada uma das empresas membro da nossa aliança. Além disso, a TAP tem um investimento importante no Brasil, na área de manutenção e engenharia, eu faço parte do conselho dessa empresa e tenho que estar presente lá, discutindo, vendo. Fora isso, na sede da empresa, há as reuniões de coordenação, que é algo extremamente importante, justamente para fazer a equipa trabalhar em conjunto, harmoniosamente, e muitas vezes nós precisamos estar juntos, fazer reuniões, ser objectivos nas reuniões, porque senão tomam muito o nosso tempo. Mas uma parte importante na rotina, é justamente, logo que chego, ver os e-mails e informações, a Imprensa, saber das notícias. E procurar ter já uma noção do dia, vir já preparado, programado para esse dia, para que se possa tirar o máximo de eficiência. Outra coisa importante também na minha rotina é a necessidade de estar ligado ao feedback do cliente, tanto na parte positiva, como nas reclamações.Além disso, o meu contacto com os trabalhadores, reuniões com sindicatos, reuniões com trabalhadores, faço isso frequentemente. E no final do dia ainda tentar fazer uma ginástica, fazer exercício…


Números TAP 2013
10.703.000 passageiros transportados
Crescimento de 5 por cento face ao ano anterior.
Taxa de ocupação dos voos subiu de 76,8 para 79,4 por cento
Voos para África com aumento de 13,5 por cento.
77 destinos em 34 países
10 novos destinos na Europa e América do Sul ao longo deste ano.
Média 2.250 voos por semana
55 aviões de fabrico Airbus, mais 16 ao serviço da PGA, sua companhia regional, totalizando 71 aeronaves

A empresa
A TAP Portugal é a companhia aérea Portuguesa líder de mercado e membro da Star Alliance, desde 14 Março de 2005. A operar desde 1945, tem em Lisboa a plataforma privilegiada de acesso na Europa, na encruzilhada com África, América do Norte e do Sul. Líder nas ligações entre Europa  e Brasil, foi eleita a Companhia Aérea Líder Mundial para África em 2011 e 2012, pelos WTA, World Travel Awards, e detém também o título de Companhia Aérea Líder Mundial para a América do Sul desde 2009. Eleita pela revista britânica Business Destinations como a Companhia Aérea com melhor Classe Executiva – América do Sul em 2013, foi também eleita a Melhor Companhia Aérea na Europa em 2011, 2012 e 2013 pela prestigiada revista “Global Traveller” dos EUA, e foi distinguida pela UNESCO e pela International Union of Geological Sciences com o Prémio Planeta Terra IYPE 2010, na categoria Produto Sustentável Mais Inovador. Considerada a Melhor Companhia Aérea pela revista “Condé Nast Traveller em 2010, foi também eleita a Melhor  Empresa Portuguesa na área do Turismo em 2011.

1 comentário:

Roberto Moreno disse...

Roberto Moreno, fundador e presidente da Fundação Geolíngua está à disposição do jornalista Pedro Cativelos, entre outros jornalistas, a sério, para lhe narrar sobre a relação que houve entre a nossa Fundação e a TAP, incluindo o Processo Crime que a TAP tentou, em 2005, contra o Roberto Moreno, em conluio com o hotel Sheraton de Lisboa. Porem, o Ministério Público o arquivou, e eu só soube deste Processo Crime em 2014, pelo DIAP. - Porque será?! - E tudo com total conhecimento do Fernando Pinto, como é evidente. Este Caso será narrado em suporte livro, teatro e cinema, para que o mundo saiba o que aconteceu e, quem é o “outro” Fernando Pinto que apoiou a nossa Fundação, em 2002, em carta timbrada da TAP e assinada pelo mesmo, mas, depois, e sem nunca ter convidado o Roberto Moreno para uma reunião, no âmbito de se saber o que estava a se passar com o Sheraton, Fernando Pinto “resolveu fazer o que era inimaginável fazer” – Processar Criminalmente o Roberto Moreno em 15-2-2005. – Gostaria, e muito que o Pedro Cativelos entre outros jornalistas, se interesse em saber tudo o que se passou e, o que ainda está a se passar com o Projeto da Fundação Geolíngua, odiado pelo “Governo de Portugal & Advogados & Jornalistas Associados”.