“Angola é um mercado fundamental para a TAP”
Chamem-lhe o piloto que recolocou a TAP a voar, ou o engenheiro da mecânica estrutural de uma empresa com história passada, e futuro agora, numa companhia aérea que ganhou asas, e é bandeira de um conceito que traduz segurança, fiabilidade, e crescimento em todo o mercado Lusófono.
Chamem-lhe o piloto que recolocou a TAP a voar, ou o engenheiro da mecânica estrutural de uma empresa com história passada, e futuro agora, numa companhia aérea que ganhou asas, e é bandeira de um conceito que traduz segurança, fiabilidade, e crescimento em todo o mercado Lusófono.
Fevereiro de 2014
Texto: Pedro Cativelos
Fotografia: TAP
Fernando Pinto, e a sua equipa, chegaram à TAP em Outubro de 2000
com o objectivo de preparar a empresa para a privatização. Hoje, 14 anos
depois, como vê a empresa que encontrou, em comparação com a que é hoje, agora
sim, na antecâmara de um processo de privatização?
A empresa é agora completamente diferente.
A TAP estava numa fase difícil porque estava previsto ser privatizada, o que
não aconteceu. Vinha de perdas de dois anos consecutivos, acima do equivalente
a 100 milhões de euros. Não tinha tesouraria para mais de três meses, e nós
precisávamos provar à comunidade europeia que esta era uma empresa viável. Isso
foi feito, mostrando um plano que traria a empresa de volta ao equilíbrio em três
anos. Hoje a TAP é uma empresa estável, cresceu duas vezes e meia relativamente
ao que era em 2000, agregou uma empresa chamada Portugália, tem novos aviões,
tem ligações importantíssimas entre a Europa, a América do Sul e África, é das
maiores empresas europeias a voar para o Brasil e para a África, está numa posição
de equilíbrio nos últimos oito anos e só não teve resultado positivo num ano,
que foi 2008. É uma empresa com uma excelente qualidade de serviços e portanto,
esta é outra TAP!
Qual foi o primeiro desafio que se impôs, a si, e à empresa,
quando a encontrou, em 2000?
Foi essa conjugação de factores, até criar
uma estratégia e provar que a empresa seria viável.
Principais diferenças, entre a Varig, que deixou, e a TAP que veio
encontrar?
A Varig que eu deixei era uma empresa que
já tinha conseguido nos últimos quatro anos fazer uma reestruturação profunda,
era uma empresa que tinha bons indicadores financeiros, entre os mais altos das
empresas no mundo, estava na faixa dos 17% de margem, tinha capacidade de pagar
os seus compromissos, era uma empresa que precisava de capital, mas uma empresa
motivada, uma empresa com condições. A TAP, em 2000, foi o desafio que eu já referi,
era quase como começar tudo de novo, todo o trabalho que eu havia feito em
quatro anos na Varig, tive que fazer tudo novamente aqui.
E qual, o desafio, em termos estratégicos, para os próximos anos,
sendo que o destino da companhia, passa, é certo por uma privatização, na sua
opinião isso implicará uma mudança da TAP, como a conhecemos?
O grande desafio é esse, continuar o
processo de crescimento! Nós crescemos em média, nestes 13 anos, algo como 7%
ou 8 % em média ao ano, agora é muito importante a privatização, justamente para
ter uma maior capitalização e poder continuar um crescimento forte, começar a
voar com novos equipamentos, como por exemplo os 12 Airbus A350, que já estão encomendados,
que permitirão uma nova etapa na vida da empresa pelo alcance, pela
possibilidade de novas rotas e pela eficiência que trazem, ou seja,
competitividade e eficiência. Mas, enfim até lá continuamos a crescer, já este
ano teremos reforço da frota e novos destinos. Depois daremos um novo salto em
2017, com os A350. Mas principalmente será a privatização que permitirá uma
mudança na TAP como a conhecemos, criando uma empresa ainda mais ágil e
eficiente.
Enquanto gestor ligado a esta área, como observa um sector em
constante mudança e evolução, de uma forma geral?
Trabalhar na área do transporte aéreo é um
desafio para todos, é realmente um sector em constante evolução, constante
mudança, sujeito a muitos fatores externos, o preço do combustível é um deles,
a oferta, as diferentes propostas, o movimento das low-cost, são desafios que as empresas têm hoje que enfrentar, mas esse
é também o charme desse tipo de negócio.
Em termos de balanço, pode fazer um resumo dos momentos mais
marcantes enquanto gestor da TAP?
Diria que mais marcante foi justamente
esse início, conseguir dar essa reviravolta nas dificuldades que a empresa tinha,
começar a ver a empresa no caminho certo no crescimento, o facto de ter um
projecto que atingiu o breakeven em três
anos, e depois todo esse fantástico crescimento que a empresa teve até atingir
a liderança da ligação da Europa com a América do Sul. Hoje nós somos a maior empresa europeia a ligar a Europa e a América
do Sul. Toda a vez que nós temos um reconhecimento dos nossos
passageiros, isso é algo que nos toca bastante. Na TAP temos um processo de reconhecimento
directo do passageiro, do nosso cliente, ao trabalhador da TAP (chamamos de
Programa Simpatia) e nós vemos situações muito bonitas que acontecem, e isso
sempre é algo muito marcante para nós. Fazemos encontros de tempos a tempos,
com os nossos trabalhadores, com esses que receberam o reconhecimento dos
clientes, e são sempre cerimónias com momentos que nos tocam profundamente.
A Segurança é porventura, uma das grandes marcas da TAP, para
todos os portugueses, mesmo para aqueles que não viajam de avião… Calculo que
esta seja uma preocupação constante na empresa. Como se construiu, e ampliou
essa imagem, em sua opinião, e o que se faz ainda hoje, para a manter?
A segurança é uma das grandes marcas da
TAP, eu diria que isso foi umas das coisas que me incentivou a vir para cá,
porque a empresa já tinha um histórico extremamente importante. Eu diria que
isso é algo que está no ADN da TAP, está nos genes da TAP, nasceu com a TAP, é
uma empresa focada nisso desde o início, é praticamente um dogma da empresa
operar em segurança. Isso se vê não só nos pilotos, que são obviamente a base
de isso tudo, são eles que fazem as decisões de saída do avião, por exemplo,
mas isso está também na manutenção e na área de handling, como obviamente por toda a empresa. Isso faz parte do
espírito da empresa. Por acaso até tenho ali no
meu computador uma peça de um dominó, é uma lembrança de que eu sou uma peça
importante também no processo de segurança da empresa, e decisões minhas também contam para a segurança, decisões de
todos os que estão aqui dentro, eu faço também com que as pessoas entendam
isso. Eu preocupo-me e é assim que tem de ser numa empresa aérea. Como se
construiu, isso é histórico, mas obviamente tem todo um processo de formação,
supervisão. Os pilotos são treinados periodicamente, temos simuladores
próprios, o que é um investimento enorme que a empresa fez, mas são
fundamentais para todo esse processo de treino, de avaliação, de verificação e
de formação.
Sendo que a África Today, é uma revista Angolana, em termos de
mercado angolano, existe alguma novidade, em termos de rotas ou periodicidade
das mesmas agendada para os próximos meses?
Essa foi umas das rotas que mais cresceu ultimamente,
passámos de ter apenas duas frequências por semana, para termos hoje 10
frequências por semana. É uma rota fundamental para a TAP, extremamente importante, e obviamente que a acompanhamos de
perto para ver o que é possível fazer, em termos melhoria de horário, em termos
até de crescimento futuro.
Há alguns anos, chegou a associar-se o seu nome à TAAG… Nunca
passaram de rumores?
Sempre procurámos dar muito apoio à TAAG,
porque é uma empresa irmã, de Angola, e nós sabemos que é extremamente
importante que ela seja uma empresa forte, sempre procurámos dar o apoio que
fosse possível e necessário. Mas nunca eu, pessoalmente, tive qualquer relação,
tive unicamente através da TAP.”
Que peso, tem o mercado Lusófono, (Angola, Moçambique, Cabo-Verde,
S. Tomé, Brasil, Timor e Macau) em termos de passageiros, e rotas, para a TAP?
Angola e o mercado lusófono, em geral, têm
um peso importantíssimo para a TAP. Temos vindo a
assistir a um crescimento sustentado no que diz respeito a números de
passageiros e são mercados onde vamos com toda a certeza continuar a procurar
oportunidades de investimento.
Disse recentemente, em relação ao processo de privatização que a
TAP “era um ganho para Portugal”, e incomparável com as outras empresas
recentemente privatizadas… Pode concretizar?
A
TAP tem uma importância global para Portugal, primeiro é uma das maiores
empresas exportadoras, está hoje entre as três maiores empresas exportadoras de
Portugal, e exportar é o que Portugal mais precisa nos dias de hoje. Depois é
uma das grandes geradoras de emprego e durante esses três últimos anos, que
foram dos anos de maior crise em Portugal, a TAP cresceu ainda assim todos os
anos e aumentou o seu número de trabalhadores, sempre ganhando em eficiência,
sempre aumentando a sua eficiência. O nosso crescimento pediu mais
trabalhadores e trabalhadores extremamente bem preparados, formados, pilotos,
pessoal de cabine, mecânicos, enfim, de várias outras categorias aqui dentro da
empresa. Mas voltando atrás, ao facto de sermos grandes exportadores (75% das
vendas que fazemos são fora do país), além das divisas que obviamente trazemos
para Portugal, o maior benefício é justamente os turistas que trazemos e as
despesas que eles fazem dentro de Portugal. Somos um cartão de visita,
mostrando o que é o Portugal moderno, o que é uma empresa moderna de Portugal,
além de fazermos o elo de ligação de negócios de Portugal com o mundo. Portanto
é tudo isso que a TAP é, obviamente que é uma empresa que tem que ser bem
privatizada, eu tenho a certeza absoluta de que o governo tem plena consciência
disso”.
O que mais irá recordar, desta experiência de tantos anos na TAP?
São tempos muito bons de contínuo e
constante desafio, eu sempre gostei de desafios, então eu vou recordar
exactamente isso, cada dia temos novos desafios, é uma empresa vibrante, que tem
um ambiente de trabalho muito bom, é uma empresa que segue muito de perto o
objectivo de ser uma das melhores empresas para trabalhar, uma das melhores
empresas para viajar, e para investir também. Acho que estamos nesse caminho e a
conseguir realizar um pouco disso, ser parte dessa realização é muito
importante para mim.
No último dia de trabalho enquanto CEO da TAP, o que lhe irá
passar pela cabeça, já imaginou esse cenário, e qual será a sua reacção perante
ele?
Eu quero sentir-me muito bem por ter
cumprido uma missão. Eu tenho sempre dito que considero que vou ter cumprido
essa missão se tiver deixado a empresa privatizada. Obviamente, bem
privatizada. Então, eu espero sair daqui e dizer que
cumpri uma missão, estou tranquilo e vou observar a TAP a continuar a crescer
em velocidade maior ainda do que quando eu estive aqui.
Numa palavra apenas, como resumiria este período que passou a
liderar, e a ajudar a consolidar uma das empresas mais queridas pelos
portugueses?
Um desafio... e de constantes desafios!
Raio X
Qual o seu livro favorito:
Steve Jobs. O que fazer e o que não fazer
numa empresa, as duas coisas que estão muito claras neste livro. Recomendo
muito para quem tem uma mentalidade empreendedora. Ver que a partir de alguns
princípios e ideias é possível fazer uma enorme empresa.
Maior perigo na vida de um CEO?
Tempo de rotação. Por causa dos desafios,
os desafios são tão grandes que muitas vezes a coisa não dá certo, o primeiro a
ser trocado é o CEO e então a longevidade não é grande. Mas o grande perigo,
para usar essa palavra, eu diria que é o CEO ter excesso de dedicação ao seu
dia a dia, e esquecer da parte familiar e pessoal, e não ter hobbies. Aí ele passa a ser um mau CEO,
porque ele não tem a cabeça fria para tomar as decisões corretas que precisa de
tomar.
Citação…Tem alguma que lhe diga algo de especial?
Eu não sou um homem de citações.
Palavra preferida:
Perseverança.
Samba, ou Fado?
“Gosto dos Beatles”.
Sardinha assada, ou churrasco?
Aí tem uma história. Eu realmente adoro
churrasco, sempre gostei de churrasco e eu vim para cá e pensei que fosse
sentir falta do churrasco, mas não. Vivo comendo peixe aqui, agora, só não
entendi como engordei 14 kg desde que vim para cá. Dizem que o peixe é menos
calórico….
Destino de eleição:
A minha casa no final do dia.
Gadget que não dispense:
O telemóvel.
Sendo que já foi piloto, algum dos seus hobby´s passa por aí?
Sim, mas tenho vários. Gosto de voar de
planador, aviões, ultra leves... Mas também de fotografia, música, toco um
pouquinho de piano, bicicleta, ténis, exporte, ski, ler, viajar, passear. Tudo
isso faz parte das minhas preferências. E ler, que eu tenho pouco tempo para
isso, infelizmente!
Já pensou no que vai fazer, quando se reformar?
Terei tempo para tudo isto!
BIO
Fernando
Pinto
Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como projecto de formatura
apresentou um protótipo do primeiro hovercraft feito no Brasil, com tecnologia
absorvida da Inglaterra, após diversos
estágios em fábricas inglesas da Ilha de
Wight.
Presidente Executivo/ CEO.(Na TAP desde Outubro 2000)
Presidente da AEA – Associação de Companhias Aéreas Europeias em 2005.
Presidente da Varig entre 1996 e 2000.
Trabalhou na Airbus enquanto chefe de divisão de Mecânica,
antes de ter passado como presidente pela Rio Sul.
O início da sua carreira, é marcado pela fundação da primeira
fábrica de aeronaves leves do Brasil, ainda hoje, a sua grande paixão em termos
de aviação.
As rotinas de um CEO
Pedia-lhe que me falasse um pouco do seu dia-a-dia enquanto CEO.
Sei que viaja muito, e que tem uma agenda sempre preenchida de reuniões.
Fale-me um pouco sobre isso, como é a rotina diária de um CEO de uma das
maiores empresas portuguesas?
As viagens são parte do dia-a-dia, numa
empresa aérea e temos que estar sempre em contacto com os diversos mercados,
tenho reuniões das entidades representativas, por exemplo. Nós temos as
reuniões da AEA (Associação Europeia das Companhias Aéreas), da IATA, o órgão
internacional de representação das companhias aéreas, e a própria Star Alliance, onde a TAP está integrada
e que nos obriga, de certa forma, a estar sempre em contacto com cada uma das
empresas membro da nossa aliança. Além disso, a TAP tem um investimento
importante no Brasil, na área de manutenção e engenharia, eu faço parte do
conselho dessa empresa e tenho que estar presente lá, discutindo, vendo. Fora
isso, na sede da empresa, há as reuniões de coordenação, que é algo
extremamente importante, justamente para fazer a equipa trabalhar em conjunto,
harmoniosamente, e muitas vezes nós precisamos estar juntos, fazer reuniões,
ser objectivos nas reuniões, porque senão tomam muito o nosso tempo. Mas uma
parte importante na rotina, é justamente, logo que chego, ver os e-mails e informações, a Imprensa, saber
das notícias. E procurar ter já uma noção do dia, vir já preparado, programado
para esse dia, para que se possa tirar o máximo de eficiência. Outra coisa
importante também na minha rotina é a necessidade de estar ligado ao feedback
do cliente, tanto na parte positiva, como nas reclamações.Além disso, o meu contacto com os trabalhadores,
reuniões com sindicatos, reuniões com trabalhadores, faço isso frequentemente.
E no final do dia ainda tentar fazer uma ginástica, fazer exercício…
Números
TAP 2013
10.703.000
passageiros transportados
Crescimento de 5 por cento face ao ano anterior.
Taxa de ocupação dos voos subiu de 76,8 para 79,4 por
cento
Voos para África com aumento de 13,5 por cento.
77 destinos em 34 países
10 novos destinos na Europa e América do Sul ao longo
deste ano.
Média 2.250 voos por semana
55 aviões de fabrico Airbus, mais 16 ao serviço da
PGA, sua companhia regional, totalizando 71 aeronaves
A empresa
A TAP Portugal é a companhia aérea Portuguesa líder de
mercado e membro da Star Alliance, desde 14 Março de 2005. A operar desde 1945,
tem em Lisboa a plataforma privilegiada de acesso na Europa, na encruzilhada com
África, América do Norte e do Sul. Líder nas ligações entre Europa e Brasil, foi eleita a Companhia Aérea Líder
Mundial para África em 2011 e 2012, pelos WTA, World Travel Awards, e detém
também o título de Companhia Aérea Líder Mundial para a América do Sul desde
2009. Eleita pela revista britânica Business Destinations como a Companhia
Aérea com melhor Classe Executiva – América do Sul em 2013, foi também eleita a
Melhor Companhia Aérea na Europa em 2011, 2012 e 2013 pela prestigiada revista
“Global Traveller” dos EUA, e foi distinguida pela UNESCO e pela International
Union of Geological Sciences com o Prémio Planeta Terra IYPE 2010, na categoria
Produto Sustentável Mais Inovador. Considerada a Melhor Companhia Aérea pela
revista “Condé Nast Traveller em 2010, foi também eleita a Melhor Empresa Portuguesa na área do Turismo em
2011.